Como responder a morte de Marielle?
- Movimento Nova Pátria
- 22 de ago. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de ago. de 2020
(Movimento Nova Pátria. 16 de março de 2018)

Não foi a primeira vez na história – e nem será a última – que em nosso país, um lutador social é assassinado pela reação. E não precisamos ir à fundo em nossa história, ainda em tempos recentes, podemos encontrar aos montes casos semelhantes nos rincões distantes do meio rural brasileiro.
Porém, o caso de Marielle é singular.
Vereadora, quinta mais votada da capital do RJ, cidade que circunda o centro da política brasileira mesmo depois de ter deixado de ser capital administrativa do país. Assinada em um bairro tradicional e populoso em pleno Rio de Janeiro, numa emboscada planejada de forma a deixar claro que seria uma execução, um assassinato político.
Será que o objetivo era calar apenas a voz de Marielle? Definitivamente, não. Se este fosse o caso, os assassinos teriam sido, sem dúvidas, muito mais discretos e sutis. O objetivo foi dar um recado a todos os militantes políticos de esquerda, todos intelectuais progressistas, lideranças sindicalistas, líderes comunitários, militantes do movimento estudantil, e todos os que querem lutar em defesa dos trabalhadores, dos humildes, dos explorados e oprimidos por este sistema perverso, e que visam liquidar o atual status quo.
E o recado é claro: “se matamos umas das vereadoras mais votadas em pleno centro do Rio de Janeiro, nenhum de vocês está a salvo!”.
É o método clássico do fascismo. O terrorismo como meio, o medo como fim.
Este assassinato brutal não é um caso isolado e aleatório, é reflexo do momento do país. Do avanço do fascismo, do bolsonarismo, do anticomunismo, da intolerância conservadora e do fundamentalismo.
Alguns poucos podem ter decidido e dado a ordem, alguns outros planejado e disparado, matando Marielle Franco e Anderson Gomes. Mas os cúmplices são todos os milhões e milhões de bolsonaristas, neofascistas, fundamentalistas de direita e os propagadores do ódio e da intolerância contra todas as vozes críticas e contra todos os que sonham e lutam por um país mais justo e igualitário.
E agora que esta comunicação macabra foi estabelecida, como responder a este “recado”?
Para nós a resposta é óbvia: ser tão duro – ou mais – contra o sistema quanto Marielle o foi. Ser menos que isso seria desrespeitar sua própria memória.
O país de maneira geral entra em uma escalada de caos, e caminha a passos largos para um regime de exceção. O Rio de Janeiro, em particular, é laboratório político deste caos que assolará o país em graus sem precedentes, e se consolida como um Narco-Estado dentro do próprio Estado brasileiro.
Do guarda municipal e dos policiais de baixa patente, até o mais alto escalão das forças de segurança pública; do prefeito da capital ao governador do estado; da esfera do poder político administrativo ao poder coercitivo, todos estão, de alguma forma, intrinsicamente ligados com o crime organizado, seja por relações escusas com o narcotráfico, seja por domínio direto por meio de milicianos que financiam campanhas eleitorais de parlamentares à candidatos do executivo.
Ao contrário do que se concebe na grande imprensa, o Estado não luta contra o crime organizado.
O Estado golpeia o povo de um lado, e o crime organizado golpeia do outro. O Estado hegemonizado pelo capital financeiro, pelas oligarquias latifundiárias e pelo grande empresariado, se associa com o poder econômico do narcotráfico e se portam como um só quando se trata de reprimir opositores, ativistas, militantes, etc.
E esta República de Bananas, este Estado vendido aos interesses estrangeiros e hegemonizado por elites criminosas associadas ao crime organizado, é o modelo de Estado fascistizado defendido, justamente, pelos que mais se outorgam “combater bandidos”.
Este é o quadro que está escancarado no Rio de Janeiro, e que tem pretensão de se estender pelo resto do Brasil.
Na América Latina nós temos exemplos claros de como estes algozes agem perante qualquer denúncia ou oposição. No México assassinam todos os meses jornalistas, e há não muito tempo tivemos o caso da chacina de estudantes. Na Colômbia por várias vezes que os guerrilheiros tentaram construir sua política pela via institucional se desfazendo das armas, foram massacrados pelo Estado e pelos traficantes.
As armas foram, e são, a única garantia de resistência – e de sobrevivência! – de grupos políticos perseguidos, a exemplo de alguns grupos armados por toda América Latina e o próprio Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) no México.
Portanto, mais do que nunca, é necessário se organizar ter como horizonte todas as possibilidades de resistência que podem vir a ser necessárias. Se organizar e buscar meios além da institucionalidade são meios necessários não só para conseguir perpassar uma linha política consequente, popular, anti-imperialsita e antifascista, como também são meios necessários para que organizações que levantem estas pautas possam sobreviver!
No mais, é de uma completa ilusão, por parte de alguns setores, acreditar que o suposto “Estado Democrático de Direito” possa resolver o problema, recuperando o “respeito” e a legitimidade das instituições que estão conturbadas e em crise de representatividade. Este crime não foi perpetrado por forças políticas “extraordinárias” fora dos limites da institucionalidade; na verdade, a própria institucionalidade burguesa e entreguista, desde há muito comprometida com os interesses vis da reação, é responsável pela morte de Marielle.
As Instituições Criminosas de Poder, de mãos-dadas com o Poder Criminoso Além das Instituições, assassinou Marielle. Acreditar que estas mesmas instituições é quem irá garantir a “segurança” e a “democracia” daqui para frente, é de uma ingenuidade política colossal.
Por isso, faz-se mais do que necessário a organização do povo e a união da esquerda, mas não apenas isso, como se faz necessário, também, por parte das organizações populares, a busca, pelos meios necessários, de formas de garantir a segurança de seus integrantes e a sobrevivência das próprias organizações.
Se as instituições da lei não promovem a justiça, mas sim a o terror político, então que arranquemos a justiça à força com nossas próprias mãos.
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