Propriedade Privada e Alienação
- Jornal A Pátria
- 3 de ago. de 2018
- 3 min de leitura
(Pedro Nogarolli, 15 de maio de 2018).

Marx começa o capítulo “trabalho alienante e propriedade privada” com um fato das nossas sociedades: o trabalho humano é alienado. Mas o que isso significa? Alienação em sua origem significa – que pertence a outro, mas também significa indiferença ao mundo, á sociedade, ás pessoas. Quando escutamos “Essa pessoa é uma alienada!”, entende-se que é uma pessoa cabeça dura, sem conhecimento, isolada, etc. Bom, para entender esse conceito no pensamento de Marx, o barbudo divide três aspectos da alienação do trabalho alienado:
O trabalho em si é alienante;
Os trabalhadores estão alienados dos produtos dos seus trabalhos;
O trabalhador está por fim alienado de si mesmo e dos outros.
1) O trabalhador não se sente bem no seu trabalho. Pelo contrário, o seu trabalho é desgastante (fisicamente e espiritualmente), ele se estressa, se auto-sacrifica, se esgota. Não se sente em casa no trabalho, mas o oposto: só se sentiria em casa fora do trabalho. Odeia o início da semana, mas adora o fim da semana. Portanto, esse trabalho não é por livre e espontânea vontade, é trabalho forçado.
Esse fato é visível, pois logo que não houvesse coerção ou necessidade, o trabalhador fugiria imediatamente desse trabalho alienante.
2) Logo, se o trabalho é trabalho forçado, então esse trabalho não é trabalho seu, mas trabalho de outra pessoa. O trabalhador não pertence a si próprio, ele pertence a outra pessoa. Assim, o regime salarial e a propriedade privada é uma consequência necessária do trabalho alienado, pois são o que significa pertencer a outra pessoa em sua forma socialmente estabelecida.
3) Por fim, Marx argumenta: O que nos diferencia dos outros animais é a atividade livre e consciente. A vida verdadeiramente humana é a atividade consciente e livre. Entretanto, o trabalho alienado faz do que nos diferencia dos animais um mero meio para subsistirmos – consumo, habitação etc. Trabalhamos para viver, mas não vivemos para trabalhar. O trabalho ganhou significados tão alienantes que naturalmente enxergamos essa frase como absurda. Como assim viver para trabalhar? Mas aquilo que é verdadeiramente humano é nossa liberdade criativa, nossa paixão criadora, nossa atividade. Por isso, o ser humano perde sua identidade com o que lhe faz humano, e sem essa noção, se distancia dos outros (sentimentalmente, espiritualmente, etc). Assim sendo, o trabalhador acaba por se sentindo humano apenas nas suas funções meramente animais – a comida, a bebida, o sexo; e se sentindo um animal na sua ação mais humana – o trabalho.
Recapitulando: o trabalho alienante possui três aspectos – o próprio ato do trabalho é alienante, o trabalhador é alienado dos frutos do seu trabalho e, por fim, o trabalhador é alienado de si mesmo e dos outros. A propriedade privada e o regime salarial são uma consequência lógica do trabalho alienante.
Alguns dados sobre o assunto:
Sociedade do cansaço- Byung-Chul Ha
“Do ponto de vista patológico, o incipiente século XXI não é determinado nem por bactérias nem por vírus, mas por neurônios. Doenças neurológicas, como depressão, déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), personalidade limítrofe distúrbio (DBP) e síndrome de burnout marcam o contexto da patologia no início do século vinte e um.”
James Oliver -Selfish Capitalism
“Taxas de sofrimento quase duplicaram entre as pessoas nascidas em 1946 (trinta e seis anos em 1982) e 1970 (trinta anos em 2000). Para por exemplo, 16% das mulheres de 36 anos em 1982 relatou ter “problemas com os nervos, sentindo-se baixo, deprimido ou triste ‘, enquanto 29 por cento das pessoas de trinta anos relataram isso em 2000 (para os homens foi de 8 por cento em 1982, 13 por cento em 2000)”
Capitalismo Tardio e os Fins do Sono – Jonathan Crar
“A história tem mostrado que as inovações relacionadas à guerra são inevitavelmente assimiladas uma esfera social mais ampla, e o soldado sem sono seria o precursor do trabalhador ou consumidor sem sono. Produtos que tiram o sono, quando agressivamente promovidos pela farmacêutica empresas, seria a primeira opção de estilo de vida e, eventualmente, para muitos, uma necessidade. Mercados 24/7 e uma infraestrutura global para trabalho contínuo e consumo estão em vigor há algum tempo, mas agora um sujeito humano está em construção para coincidir com estes mais intensivamente”
Pedro Nogarolli
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