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Sobre a liberdade sexual: entre a jovem mulher da periferia e a mulher jovem do bairro nobre

Atualizado: 23 de ago. de 2019

Sobre liberdade sexual... Eu estava pensando em algumas coisas aqui sobre isso, porque é um negócio muito falado entre feministas e que não é debatido na profundidade que deveria ser.

Vou começar dando dois exemplos, mulher 'A' e mulher 'B'.

A mulher 'A' é negra, mora no coque, está desempregada a algum tempo e sustenta sozinha seus filhos com o dinheiro de faxinas, hinode, almoços, etc. Cada filho é de um pai que foi embora (pra sempre) depois de descoberta a gravidez. 'A' começou a se envolver com feminismo e etc por causa de alguns memes na internet, alguns amigos virtuais, o que a fez ter contato com feministas da sua cidade e hoje ela se declara feminista e participa, na medida do possível, das atividades relacionadas a esse tema.

'A' não consegue engatar um relacionamento estável. Aparentemente, todos os homens, antes e depois do feminismo, só chegam pra ter o que querem e depois vão embora. A diferença é que antes do feminismo, os relacionamentos eram apenas com os homens do seu bairro.

'B' é branca, mora na Torre, não tem filhos, mas conseguiu fazer alguns abortos (quando precisou), é dona de uma loja de roupas 'empoderadas', tem uma vida estável financeiramente, consegue rachar motel com os "boys" que pega, e volta pra casa no outro dia de uber, em segurança.

'B' tem facilidade em namorar, se parece muito com as mulheres que se vê na TV. Os relacionamentos duradouros que teve acabaram porque ela cansou da exclusividade sexual, queria alguma coisa diferente. Pelo menos é o que ela sempre diz nas rodas de amigos.

'A' desde pequena cuidava da casa e dos irmãos, teve que sair da escola pra trabalhar e, nos poucos momentos de lazer, ia pra o que estava disponível ao seu bolso e ao seu mundo. Ia para um brega, pra um "muvucão"... As roupas eram doações, mas a sorte dela é que eram as mesmas roupas que todo mundo já estava usando. Pelo menos tava na moda, né?

Acabou engravidando, nunca (ou pouco) ouviu falar em camisinha, mas por algum motivo quando usava aquela blusa da demillus ouvia que era gostosa. Ela sabia que era gostosa, mas não o que era gostosa.

Foi assim até ouvir num debate feminista, onde encontrou 'B', que "do mesmo jeito que o homem tem direito ao prazer, a mulher também tem", que "sexo sem compromisso é um direito que os homens tem, mas que é negado para as mulheres". Algumas coisas desse tipo. Descubra seu clítoris", "gozar é um ato revolucionário", etc, eram coisas novas pra ela, mas que as mulheres que também estavam ali pareciam saber aquilo de cabeça. Ela não. Mas a ideia de gozar sem ser julgada era nova, bonita, libertadora.

Foi colocar em prática.

Os homens do seu bairro, que só ouviram falar de feminismo por causa das eleições, acharam legal esse negócio de ter alguém pra transar sem burocracia. Transar. Namorar com mulher assim não rola.

Transou com um, com dois, no beco, na escadaria, na barreira. Era livre, como já era desde que engravidou pensando que se colocasse suco de limão na vagina evitaria a gravidez.

'B', que apoiou a decisão da amiga de se descobrir sexualmente, nunca precisou fazer o almoço do outro dia antes de transar. Nunca teve que escolher entre transar ou encher os baldes de casa porque nunca se sabe quando vai chegar água de novo. 'B' era livre e podia transar.

Moral da história:

Na sociedade capitalista, a exploração da mulher se baseia no trabalho reprodutivo, que é cuidar da casa, dos filhos, do marido, envolvendo o bem estar, a saúde, a educação, etc. Dentro desse trabalho reprodutivo, dar prazer ao homem é uma das coisas que mais se espera das mulheres. Mesmo que ela não seja das mais ativas na cama, o homem PRECISA ter uma mulher para gozar.

Numa sociedade que tem um passado escravocrata, que um grupo de pessoas não eram nem considerado gente a poucos anos atrás, são essas mulheres, que não são consideradas mulheres, que cumprirão o papel de ser a pessoa que tem que fazer o homem gozar. Talvez por isso que as mulheres negras tem a obrigação de serem 'gostosas'...

Depois eu elaboro melhor esse pensamento, mas nada contra sexo sem burocracia, mas ninguém consegue gozar com medo do salário não sair amanhã e as crianças ficarem com fome...


Ana Carolina

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