A China é o nó na cabeça dos monetaristas (por Priscylla Silva)
- Camarada C.
- 15 de ago. de 2018
- 4 min de leitura

A China é o nó na cabeça dos monetaristas… E eu amo ver eles se desdobrarem pra compreende-la.
Em fevereiro de 2018, o bacharel em economia e ensaísta indiano Pankaj Mishra relembrou detalhes da escalada chinesa no NyTimes:
“O sucesso econômico da China revela uma verdade histórica desconfortável: ninguém que prega “livre comércio” realmente pratica isso.”
Outros detalhes que Mishra levantou, antes de se aprofundar na China, foi a questão de falta de resposta das esquerdas mundiais a combinações explosivas de Globalização + Neoliberalismo. Os economistas Rodrik, Milanovic Mitchell tbm debatem essa questão.
Mishra destaca no seu texto a atuação do Trump sobre isso: “Trump, em seu terceiro dia de mandato, cancelou a Trans-Pacific Partnership, um acordo comercial regional com o Japão e outros dez países. Ele então denunciou o Canadá, a Alemanha e a Coréia do Sul por exportarem mais para os Estados Unidos do que importam. Ele prometeu renegociar acordos comerciais com a Europa, Canadá e México e obter um acordo melhor para os trabalhadores americanos.”
A China, que Trump evitara falar o nome, dias antes dessas ações do americano estava em Davos reivindicando a Liderança da economia Global. Inusitadamente, justo nesse encontro de Davos, foi Xi, não Trump, que se ergueu para defender o “Livre mercado” e acusou alguns de culparem a globalização pelos efeitos de perdas em suas economias. Até citar Dickens Xi fez em seu discurso.
Só que tem um detalhe que Mishra lembra: “Não importa que Dickens estivesse realmente descrevendo o mundo antes da Revolução Francesa. A alegação de abertura de Xi era, no mínimo, repleta de contradições próprias. É cada vez mais difícil para as empresas estrangeiras fazer negócios na China; A política industrial “Made in China 2025”.
A crise financeira de 2008 enfraqueceu muito a economia americana, mas deixou a China relativamente ilesa. Mais importante, a China, cuja participação no comércio mundial em meados da década de 1970 era inferior a 0,5%, é hoje o maior exportador mundial – o centro de novas e cada vez mais densas redes comerciais transcontinentais que ignoram os Estados Unidos.
É imperativo perguntar: por que uma economia de mercado dirigida por um Estado comunista se tornou a segunda maior do mundo? Ou, para reformular a questão: por que não deveria ter? Por que a ascensão da China não teria acontecido do jeito que aconteceu, com planejamento econômico liderado pelo Estado, subsídios industriais e pouca ou nenhuma consideração pelas regras do “livre comércio”?
E como fica os monetaristas ortodoxos aqui? Inusitadamente Friedman é relembrando pelo ensaísta indiano, mas, a lembrança não é apenas por Friedman ser reconhecido como um dos baluartes só [neo] liberalismo apenas, mas por sua estadia na China.
Em 1980, justo ano que é demonstrado nesse gráfico, Friedman foi visitar o país ainda miserável. O Prêmio Nobel de Chicago foi, então, cimentando sua reputação como um apóstolo dos mercados livres. Ele tinha acabado de publicar “Free to Choose”, um livro que foi escrito com sua esposa, Rose, e mais tarde se transformou em uma série de televisão apresentando, entre outros, Ronald Reagan, Arnold Schwarzenegger e Donald Rumsfeld.
“O argumento de Friedman, de que “o mundo funciona com indivíduos que perseguem seus interesses separados”, moldaria a política econômica americana nas próximas décadas. Ele ajudou a desacreditar a ideia, exemplificada de forma mais vívida pelo New Deal, de Franklin Roosevelt, de que o governo tinha um papel legítimo e muitas vezes indispensável a desempenhar na promoção do desenvolvimento econômico e na proteção dos vulneráveis.
Friedman foi o mais influente proponente do livre comércio desde que Adam Smith declarou, em 1776, a base da riqueza das nações. Mas em 1980, poucas pessoas na China, incluindo os acadêmicos que convidaram Friedman para uma turnê de palestras, sabiam que seu convidado americano era um ideólogo impaciente e até volátil.”
Aqui Mishra conta um detalhe que simplesmente fez eu gargalhar enquanto lia: “Uma série de mal-entendidos (frequentemente cômicos) se seguiu. Friedman reclamou do homem chinês com um “odor corporal terrível” que o recebeu no aeroporto de Pequim. O homem acabou por ser um dos seus anfitriões acadêmicos.”
Com aquela retórica costumaz de soberba, o americano passou a palestrar com a Verdade Absoluta do Livre Mercado em contraponto ao Socialismo. Na realidade, segundo os participantes, Friedman teorizou completos absurdos sem conhecimento claro do que ao menos uma concepção Dirigista dentro do capitalismo. Friedman simplesmente tremeu quando 2 economistas explicavam o segundo plano econômico, “Grande Salto Adiante” (início de 60). Quando o americano indagou sobre as particularidades da agricultura, a resposta soou como navalhas aos ouvidos de Friedman: Comunas Populares.
Friedman deixou a China, afirmando com raiva que seus anfitriões eram “inacreditavelmente ignorantes sobre como funciona um mercado ou sistema capitalista”.
Friedman morreu em 2006, pouco antes da crise financeira de 2007 e 2008. Os extensos abalos políticos. O economista não viu, por exemplo, a economia se seu país praticamente colapsar e, oposto dos EUA, a China sair praticante ilesa.
“Desconcertado (e chocado) como Friedman provavelmente teria sido pela demonização do livre comércio por Trump, ele teria achado ainda mais difícil explicar por que a China, dirigida por um Partido Comunista, emergiu como central para a economia capitalista global.
De fato, a história econômica revela que grandes potências econômicas sempre se tornaram grandes por causa dos estados ativistas. Independentemente das propriedades místicas reivindicadas, a mão invisível do interesse próprio depende da mão visível e muitas vezes pesada do governo.”
Se algum novo liberal quer entender porque Friedman não se fez nem próximo de ser ouvido na China em 80? As canhoneiras britânicas ajudaram a impor o livre comércio na China do século XIX – uma lição que não se perdeu nos chineses.
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