A cobertura jornalística do incêndio do Museu Nacional é desalentadora
- Camarada C.
- 6 de set. de 2018
- 2 min de leitura

Três dias depois do incêndio que destruiu o Museu Nacional e com ele um dos mais valiosos acervos científicos e históricos do país, a preocupação maior da imprensa brasileira em sua cobertura do episódio parece ser impedir que a penúria da instituição seja associada à política de austeridade do governo federal.
Para tanto, os funcionários e professores da UFRJ estão sendo transformados em bodes expiatórios desse desastre irreparável, por meio de um conjunto de reportagens, artigos e editoriais cheios de informações enviesadas, dados descontextualizados e opiniões sem espaço para o contraditório, que são, como de hábito, apresentadas como máximas dogmáticas.
Como falar em excesso de funcionários sem dizer o critério usado para essa avaliação? Como noticiar que as verbas da UFRJ aumentaram, como se dinheiro não fosse o problema ou ao menos parte dele, sem destacar que a universidade afirma que vai fechar o ano com um déficit milionário?
Como dizer que a UFRJ recusou por cegueira ideológica um aporte de US$ 80 milhões sem ouvir quem participou dessas negociações à época, e que aliás agora está desmentindo essa informação?
Se houve um dado bonito em meio ao horror do incêndio, foi ver como as inúmeras recordações de vivências individuais no museu, compartilhadas nos últimos dias, construíam o panorama de uma experiência coletiva, comum. Num país em que a dimensão pública da vida social é desde sempre tão desvalorizada, ficou a sensação de que perdíamos um patrimônio nosso, de todos. Algo que nos aproximava e nos definia como participantes de uma mesma sociedade.
É desalentador constatar que a cobertura jornalística do incêndio, nos termos em que tem se dado até agora, contribui para agravar não apenas a desvalorização da UFRJ e do ensino público de nível superior no Brasil, mas essa dimensão elementar mesmo da importância das instituições públicas na construção de um país.
Comments