A guerra da micro-eletrônica (por Gustavo Gindre)
- Camarada C.
- 14 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de ago. de 2018
Uma guerra se avizinha e seu campo de batalha é a microeletrônica.

Os celulares e tablets de todo o mundo rodam com chips que se utilizam da tecnologia de uma empresa chamada ARM (inglesa, recentemente comprada pela japonesa Soft Bank). Mas a ARM não fabrica os chips. Ela vive do licenciamento de sua tecnologia.
Atualmente três empresas dominam o mercado de chipsets para celulares e tablets, com a tecnologia ARM: Qualcomm (Estados Unidos), Apple (Estados Unidos) e Samsung (Coreia do Sul).
A China vinha fazendo enormes esforços para criar seus próprios chipsets com tecnologia ARM e atualmente duas fabricante chinesas (Huawei e Xiaomi) já produzem celulares com chipsets próprios. Mas mesmo elas ainda utilizam chipsets da Qualcomm ou da Samsung na maioria de seus celulares.
Sabendo disso, Trump alegou que uma das maiores fabricantes chinesas (ZTE) espionava para o governo chinês e impediu que qualquer empresa norte-americana vendesse componentes de celulares e tablets para a ZTE, que foi obrigada a simplesmente parar sua produção.
Uma reunião entre Trump e o vice primeiro-ministro chinês parecia ter resolvido o problema. Trump suspendeu a proibição de vendas para a ZTE, e o governo chinês se comprometeu a aumentar a compra de produtos agrícolas de fazendeiros norte-americanos.
Mas a China sentiu o golpe e resolveu acelerar sua indústria de chips, com uma verba de US$ 47 bilhões para pesquisa. Ou seja, a China busca claramente se libertar da dependência da microeletrônica norte-americana (embora o resultado com certeza ainda vá demorar alguns anos).
Ao mesmo tempo, Trump acabou não revendo diversas outras medidas comerciais contra a China.
E a China resolveu contra-atacar. A americana Qualcomm acaba de noticiar que desistiu de comprar a fabricante holandesa NXP (a última ainda em solo europeu), no que seria a maior transação da história da microeletrônica. O motivo foi a negativa do órgão chinês de regulação da concorrência.
Imediatamente senadores republicanos, como Marco Rubio, passaram a defender a volta da proibição de vendas para a ZTE.
A China ainda possui grande dependência da microeletrônica criada nos Estados Unidos. Mas ela deve ter fortes motivos para resolver entrar nessa guerra assim de forma tão explícita.
Resta ver quais serão os próximos passos de cada lado e quais trunfos cada um tem na manga.
Uma coisa que me impressiona é a decadência europeia. Se somar as integradas, que desenham e fabricam os chips (como a Samsung), as fabless, que apenas desenham os chips (como a Qualcomm), e as pure play, que fazem chips para os outros (como a TSMC), acho que a única europeia é a NXP.
Enquanto isso, países como o Brasil ficarão apenas olhando…
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