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Publicações e Posts

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CONSTRUÇÃO

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Chuvas torrenciais no RJ sempre existiram, e as autoridades nunca fizeram nada



O Rio de Janeiro tem registro de chuvas torrenciais e enchentes desde o século XVI.


Em meu tempo de vida, lembro-me de pelo menos três ou quatro delas. Não vou falar das chuvas de 1966 e 1967 porque só as conheço das reportagens de jornal. (A de 1966, a propósito, castigou duramente o mesmo Jardim Botânico que sucumbiu com a chuvarada de ontem e hoje.) Mas tenho vívida lembrança das enchentes de 1988, 1996, 2010 (e no Morro do Bumba, em Niterói, em 2011 em Petrópolis e Teresópolis...) e esta.


Em todas - TODAS - estas enchentes alguma "otoridade" apareceu para dizer que "choveu como nunca", que "em 24 horas choveu o esperado para o mês inteiro", a imprensa disse que "a cidade não estava preparada" etc.


Infelizmente, o grão de verdade que pode haver em tudo isto não pode ocultar o óbvio: a ocupação do solo urbano em toda a Região Metropolitana foi feita, ao longo dos séculos e com velocidade galopante a partir da segunda metade do século XX, sem nenhuma preocupação com as características geográficas da região, pelo contrário: aprisionamos rios, soterramos manguezais, ocupamos várzeas inundáveis, assoreamos lagoas. Todo esse processo resultou numa cidade que terá de conviver, por um longo tempo, com o risco de desastres naturais provocados pelas águas.


Pois bem: se é assim, a preocupação com a mitigação dos problemas causados pelas tempestades, a regulação do solo urbano e principalmente o reassentamento dos moradores que hoje ocupam áreas de risco na região - que faz parte da questão mais ampla da moradia popular - deveria ser uma obsessão dos governantes da cidade e do Estado.


Mas não é.


Vivo em Jacarepaguá há 16 anos. O bairro ocupa uma baixada, drenada por dezenas de rios e córregos que desaguam na Lagoa de Jacarepaguá, que a especulação imobiliária transformou num acidente geográfico da Barra da Tijuca. Durante todo este tempo, vi o bairro inchar de forma ensandecida, com edifícios construídos com velocidade assombrosa, a tomar o lugar dos sítios e do casario que dominavam a paisagem do bairro. As vias da região se encontram praticamente obliteradas pelos automóveis; a prefeitura concedeu licenças sobre licenças para construção, sem critério aparente além da satisfação dos desejos das construtoras. Enquanto isso, as comunidades proletárias do Rio das Pedras, Cidade de Deus e Curicica - todas estas, construídas sobre terrenos de várzea e que se encontram à beira dos rios e córregos do bairro - se transformaram em pequenas Calcutás, gigantescos emaranhados de construções sem saneamento básico, com lixo e esgotos vazados diretamente nos rios.


Não sou nenhum passadista. O processo de adensamento das grandes cidades é tão inevitável quanto necessário; o problema é que ele ocorre unicamente para proporcionar lucros aos grileiros de terra urbana, às construtoras e aos governantes que as ordenham em troca precisamente dessa liberdade irrestrita de ocupar as áreas que bem entendem e empurrar os miseráveis para os morros e várzeas.


Marcelo Crivella parecia ser só mais um desses merdas que passaram pela prefeitura do Rio de Janeiro. Mas, não: é pior. Não só sonegou à cidade os recursos para minimizar os efeitos da tragédia, como parece estar absolutamente indiferente ao que se passa.


De qualquer forma, dele nada se pode esperar. E nem dos próximos, ao menos por enquanto. A sorte da cidade só irá mudar quando tivermos à sua frente gente menos disposta a melhorar a vida dos que sempre estiveram bem.


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