Como se precaver contra a censura e o autoritarismo da tática 'colheita de provas'
- Camarada C.
- 4 de nov. de 2018
- 4 min de leitura

Recebi ontem um e-mail sobre reuniões que serão promovidas pelo DCE e CA's para discutir os "retrocessos do Governo Bolsonaro". Acho que convém dar umas dicas para esse pessoal daqui da Universidade, um tanto óbvias, mas de repente necessárias, haja visto o que aconteceu em outras nesta semana. Continuamos a ser bombardeados por mensagens ambíguas. A boa notícia: esse padrão poderá ser um tiro pela culatra, antes do que se imagina. Mas vamos lá.
Quem já percebeu o modus operandi dessa turma da "base", sacou que ele segue o "método Lava-Jato" (vamos chamar assim, por falta de termo melhor): eles "forçam uma situação" e depois que ela está consumada se produzem as "provas". Não se trata de "investigação", mas, citando Sergio Moro, "colheita de provas" (apud Programa Roda Viva, 2018). Só se colhe aquilo que foi plantado, ora bolas. Nesse sentido, aquela moça de Sta. Catarina acionou a reação em cadeia que depois ela mesma acionará como prova do que falo. Hoje mesmo recebi vídeos de professores dizendo que vão sim dar Marx, Luta de Classes, etc. Morderam a isca.
Claro que ninguém vai deixar de dar Marx. Sempre se deu Marx. E se deu e vamos dar Adam Smith, Hobbes, Locke e Clastres. Entra todo mundo, só ela não sabe disso. Mas o que temos que fazer? Nada. Simplesmente trabalhar como se estivéssemos em 2008, e não em 2018. Permitam-me ilustrar com um exemplo, a terra arrasada. Só foi possível virar a invasão nazista no leste recuando toda a indústria soviética para trás dos Urais. O que se deixava no caminho da linha alemã era "terra arrasada", nada para ser apropriado como butim. Depois de se apropriar de quase 90% de Stalingrado no início de novembro de 1942, o recuo anterior deu resultado, e a contra-ofensiva foi empurrando de novo os nazistas até a Alemanha.
Os adeptos do "método-Lava-Jato" precisam ter o butim para se apropriar. Se recuarmos, eles vão ficar no vazio. Eles não são maioria, mas eles querem que o outro lado constitua maioria, para que eles "provem" que a Universidade é um antro de doutrinação esquerdista. Por isso, a melhor tática agora é a da dissipação e da formação de redes descentralizadas, impermeáveis. O ideal é que todo mundo feche a privacidade do Facebook e redes sociais, e que se reduza bastante o número de contatos. Pessoalmente, irei fechar a rede apenas para quem conheço de fato, o que deve diminuí-la consideravelmente. Isso não vai ser prejudicial, pois as redes se conectam, então não há o que temer. Saiam daquela porcaria de grupo da UFqualquerumavale, deixem eles falando sozinhos. Toda a ação híbrida deles se baseia na expectativa de que o inimigo forma uma massa que deve ser desestabilizada. Façam o serviço antes, assim eles não têm onde atacar. Todo mundo sabe quem é quem nessa vida, portanto sair da massa não vai tirar de vocês suas identidades.
O DCE e CA's vão fazer reunião? Não aguentam não fazer? Então não toquem no nome de Bolsonaro. Só falem em "elementos positivos", como democracia, etc. Joguem no plano semântico inverso ao que os 8 loucos com câmeras esperam. Vai dar alergia? Pode ser, mas desenterrem do fundo da gaveta suas camisetinhas amarelas, de preferência da seleção. Quando os 8 chegarem lá, não terão o que dizer. Se não for demais, convidem a polícia que já está no campus, para que ela não apareça lá de outra forma. Vocês têm que pegar os agentes de segurança no contrapé, conquistá-los, e não jogar eles no colo dos outros. Lembrem-se que eles já estão lá, portanto é preferível que se chegue por conta própria que é melhor estar na rua do que em um campus "pacificado". De que vai ser péssimo ter fotos e vídeos de policiais descendo a borracha em gente que está com a camiseta da seleção. Lembrem-se de que nada disso é ilegal, e portanto o que é preciso fazer é usar o sistema a seu favor.
Dito isso, cabe notar que é imprescindível que se entenda que todas essas ações híbridas visam criar uma cortina de fumaça para o que vem de fato: a nomeação de Paulo Guedes como Primeiro-Ministro, cujo projeto é deixar as coisas de modo que sequer tenhamos Universidade para lutar. Bolsonaro é o Rei, sob qual vão recair todas as investidas simbólicas, e bater nele, volto a dizer, será inócuo, pelo menos por enquanto. Como é possível de se especular diante desse cenário, este "padrão híbrido" pode criar dissonâncias internas ao governo. Creio que a mais provável é tensão entre militares nacionalistas e o financismo de Guedes, o superministro, Bolsonaro não pode dispensar Guedes para não ser minado pela finança, e não pode se afastar dos militares pois perde seu real esteio no poder. Claro que ele vai tentar ficar negociando com ambos, mas, como sabemos, negociação não é bem o seu forte.
Nesse ponto, só não vê quem não quer, o nacionalismo ali proposto é mais "moral" do que "soberano". Em outras palavras, é uma fachada: se torce para a seleção mas não se dá a mínima para a economia. Não acho impossível que cedo ou tarde o Governo se imploda nas dissonâncias que ele próprio está criando, então o melhor é ficar longe e quieto, assistindo de camarote, pois do contrário eles vão conseguir de novo jogar a culpa na esquerda e se unir. NOTEM BEM QUE A SOLUÇÃO PARA AS CONTRADIÇÕES DESSE GRUPO SEMPRE FOI APELAR PARA UM FATOR EXTERNO A ELE PRÓPRIO: Deus, Família, Ordem, e, claro, o Anti-PT. Como os três primeiros não vão encher o bolso de ninguém, vai sobrar o antipetismo. Se a esquerda estiver quieta, isso não vai colar. Aposto que daí vai ser mais fácil trazer os militares para um acordo do que se continuarmos a querer bater de frente com eles. Feito isso, Bolsonaro se torna um ovo sem conteúdo, e Paulo Guedes será o pintinho que nunca nasceu. De quebra, Sergio Moro e o "método-Lava-Jato" finalmente poderão ser dessacralizados (que boa essa notícia dele ir para o governo, espero sinceramente que dê certo).
Por essas razões, acho que é uma boa hora para se experimentar sair do paiol de pólvora e se comportar como se estivesse numa floresta úmida, com super-fungos se conectando no solo. Sem fogo não há fumaça, e assim fica claro para todo mundo do que se tratam as táticas que estão sendo usadas. O momento é de estudar.
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