Debater, "falar em voz alta", é tão importante para o aprendizado quanto "ler silenciosamente"
- Jornal A Pátria
- 31 de out. de 2019
- 2 min de leitura
Reflexões sobre o aprendizado do autoditata, por Matheus Novaes.

Muitas vezes nós lemos um livro superficialmente. São livros complexos, difíceis e repletos de questões. É impossível apreender todo seu conteúdo, todas suas consequências.
Não é que nos limitemos a essa noção limitada. Lemos autores comentando, lemos múltiplas vezes estes mesmos livros complexos e isso é trabalhoso, mas percebemos nosso desenvolvimento na releitura. Nosso próprio aprofundamento e isso é bastante satisfatório.
Mas é importantíssimo que tenhamos em mente que a leitura, por mais importante que seja, não é o único momento do aprendizado autodidata. Isto deve ser lembrado. Quantas vezes alguém conversa conosco sobre uma obra que nós entendemos e somos vistos até como especialistas, mas, precisamente por conta deste diálogo, desvendamos dúvidas, organizamos melhor nosso pensamento, verificamos uma consistência, um ordenamento superior àquele que tinhamos em vista antes de tratar verbalmente da matéria.
Nietzsche diz que é próprio do moderno ler em voz baixa, silencioso. Ler em voz alta é muito importante. Boa parte das obras de Heidegger estão voltadas as suas aulas (inclusive o Heráclito, seu livro superior no meu ponto de vista não consensual [...]). Marx vivia as lutas e por mais que estudasse isolado na biblioteca de Londres absolutamente tudo, não era ele também um homem de grandes debates? Não eram os gregos - e talvez o Heráclito, maior dos sábios seja uma exceção, apesar de sua história sobre educar as crianças - grandes faladores, pessoas que pensavam falando?
Precisamos dar valor ao diálogo para desenvolver nosso pensamento, aprender com nos mesmos pelas palavras, ver nossa alma fora de nós e assim verificarmos nossos aprendizados.
Não subestime a palavra. Dê seu devido tratamento. Por conta disso eu e meus amigos somos tão sábios, pois vamos ao bar e nele bebemos tanto quanto falamos. E cambaleamos pra caralho.
Matheus Novaes
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