Deng Liqun: A teoria de Mao sobre continuar a revolução sob a ditadura do proletariado é correta
- Jornal A Pátria
- 8 de dez. de 2019
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Escrito de Deng Liqun sobre a necessidade da manutenção da vigilância da Ditadura do Proletariado e o aprofundamento revolucionário da mesma, mesmo após a revolução ter iniciado e os comunistas terem tomado o poder.
Deng Liqun sempre foi um quadro da "ala esquerda" do Partido Comunista na China e este seu texto é de julho de 2000, e foi traduzido em dezembro de 2019 do mandarim para o português por Gabriel Martinez.
Ele faleceu em 2015 e continua sendo uma figura muito respeitada e lembrada entre os quadros chineses mesmo após sua morte.

Deng Liqun foi um importante líder do Partido Comunista da China, que desempenhou um papel destacado no período inicial da implementação das reformas. Ajudou o Partido Comunista da China a formular os princípios ideológicos que serviriam de orientação básica para as reformas. Tais princípios são conhecidos como “Quatro Princípios Cardeais”, que são: aderir ao caminho socialista; defender a ditadura do proletariado; defender a liderança do Partido Comunista; defender o Marxismo-Leninismo Pensamento Mao Tsé-tung.
Os “quatro princípios” foram adotados, pois quando o Partido começou a retificar certas políticas de cunho “esquerdista”, que caracterizaram o período anterior das reformas, uma tendência liberal-burguesa emergiu dentro do Partido e sociedade, atacando abertamente o sistema socialista, alegando que o capitalismo seria um regime superior.
Deng Liqun sempre manteve uma grande vigilância contra ideias equivocadas que surgiam dentro do Partido durante o período das reformas, passando a ser chamado pela mídia burguesa internacional como o “Rei da Esquerda”. Apesar de não ser tão politicamente hábil como outros líderes da época, na minha opinião Deng Liqun representava os elementos mais ideologicamente comprometidos com o marxismo-leninismo dentro do Partido Comunista da China.
Até hoje muitos quadros do Partido Comunista da China se organizam em torno das ideias desse líder. Um fato interessante e pouco conhecido é que Deng Liqun se opôs abertamente a política de se permitir que empresários entrassem dentro do Partido. Quando essa política foi adotada — a partir do 16° Congresso — ele assinou uma carta junto com outros quadros condenando essa medida. Faleceu em 2015, em Pequim, e o seu velório em Babaoshan recebeu a visita de Xi Jinping, Hu Jintao e Jiang Zemin, fato que revela sua influência dentro do Partido Comunista da China.
Gabriel Gonçalves Martinez
A teoria de Mao Zedong sobre continuar a revolução sob a ditadura do proletariado é correta
Deng Liqun
8 de julho de 2000
Em 12 de dezembro de 1970, em uma conversa com o jornalista Edgard Snow, o camarada Mao Zedong afirmou: “em nossa constituição atual, além das “quatro grandes liberdades” é necessário adicionar o direito de greve, dessa forma podemos retificar o burocratismo". Em 1975 as “quatro grandes liberdades” foram inseridas na constituição de nosso país. Em 1976, durante o “contra-ataque aos vereditos direitistas”, o camarada Mao Zedong disse que não devemos nos engajar em grupos de combate, mas sim deixar a liderança aos comitês do Partido. Depois do fim da “revolução cultural”, a constituição foi revisada e as provisões das “quatro grandes liberdades” foram removidas de acordo com a opinião do camarada Deng Xiaoping.
Como uma forma de realizar a grande democracia, as vantagens e desvantagens das “quatro grandes liberdades” podem e devem ser estudadas, prestando atenção fundamental e implementar as ideias de Mao Zedong sobre a democracia socialista.
Em 1959, enquanto estudava a terceira edição do Manual de Economia Politica Socialista da União Soviética, ele disse:
ao se falar sobre os vários direitos desfrutados pelos trabalhadores soviéticos, não se fala sobre o direito dos operários em administrar o país, o exército, as empresas, a cultura e a educação. De fato, esses são os maiores e mais fundamentais direitos dos trabalhadores no regime socialista. Sem esse direito, o direito dos trabalhadores ao trabalho, descanso e educação não podem ser garantidos.
A questão da democracia socialista é, antes de tudo, se os trabalhadores possuem o direito de superar todo tipo de forças hostis e suas influências. Ter o controle dos jornais, revistas, rádio, filmes é uma questão de direitos para o povo. Quem critica? Se todas essas coisas estão nas mãos de um pequeno número de direitistas oportunistas, então a vasta maioria da nação, que necessita urgentemente de um grande salto adiante, irá se encontrar privadas desses direitos. Se o cinema está nas mãos de direitistas, como o povo irá exercer os seus direitos nesse setor? Existe uma variedade de facções no seio do povo. Aqueles que controlam órgãos e empresas possuem um enorme peso na questão de garantir os direitos do povo. Se os marxistas-leninistas estiverem no controle, então os direitos do povo serão garantidos. Se os direitistas oportunistas estiverem no controle, então esses organismos e empresas mudarão qualitativamente e os direitos do povo não serão garantidos. Resumindo, o povo deve ter o direito de administrar a superestrutura. Não podemos entender os direitos do povo como algo gerido apenas por uma pequena parcela de pessoas, enquanto o povo desfruta dos direitos ao trabalho, educação, seguro social, etc. sob gestão dessas pessoas.
As drásticas mudanças no Leste Europeu e a desintegração da União Soviética comprovam que Mao Zedong estava certo. Em conexão com a realidade de nosso país, devemos refletir profundamente.
A “revolução cultural” foi uma guerra civil. Mao Zedong nunca falou que a “revolução cultural” foi um fracasso. Porém, em seus discursos dos últimos anos, é possível observar que ele pelo menos considerava que a “revolução cultural” não foi bem-sucedida. De fato, o movimento da “revolução cultural”, que durou dez anos, foi um grave erro e resultou em muitas perdas desnecessárias.
No entanto, o fracasso da “revolução cultural”, lançada e liderada por Mao Zedong, não pode ser usado para provar que sua teoria sobre a continuação da revolução durante a ditadura do proletariado, a luta anti-revisionista e de prevenção contra a evolução pacífica e a restauração capitalista deve ser classificada como equivocada. Em 5 de abril e 29 de dezembro de 1956, de acordo com o debate na reunião ampliada do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China, o Diário do Povo publicou sucessivamente o artigos “Sobre a Experiência Histórica da Ditadura do Proletariado” e “Uma vez mais sobre a Experiência Histórica da Ditadura do Proletariado”, assim como sete artigos criticando o Comitê Central do PCUS, tais como “Propostas sobre a Linha Geral do Movimento Comunista Internacional”, que possuem um conteúdo teórico provados pelo teste da história.
A proposta de lançar o movimento da “revolução cultural” tinha como objetivo consolidar a ditadura do proletariado, combater e prevenir o revisionismo e a evolução pacífica, combater a restauração capitalista. O problema é que Mao Zedong superestimou a situação do inimigo; ele superestimou o nível de consciência das massas, o nível de aprendizado do Pensamento Mao Zedong, bem como a habilidade das massas em entender e implementar políticas corretas. No que diz respeito a analise da situação do inimigo, no período inicial da “revolução cultural”, a avaliação sobre os “seguidores do caminho capitalista” e o julgamento sobre o “quartel-general da burguesia” estimava que esses seriam o mesmo que a burguesia monopolista e o Kuomintang. Não era apenas a ditadura da burguesia e uma linha reacionária burguesa, mas sim a realização do “terror branco”, um movimento de escala nacional onde uma classe derruba outra classe. Obviamente, a superestimação do inimigo é algo muito sério. Não é como se não existisse seguidores do caminho capitalista. De fato, existiam grupos capitalistas, tais como Lin Biao. Mas a vasta maioria dos “grupos capitalistas” eram camaradas que não cometeram erros de seguidores do caminho capitalista. Antes de 1975, a grande maioria dos quadros nos níveis ministeriais e provinciais foram libertados e reabilitados, exceto por alguns que depois mostraram ser elitistas que se juntaram ao partido no período da revolução democrática. Era errado dizer que esses camaradas não poderiam corrigir os seus erros.
Novamente, não podemos dizer que a teoria da revolução sob a ditadura do proletariado é errônea por causa dos erros mencionados acima. Nós devemos distinguir a “guerra civil” e os graves erros cometido durante a “Revolução Cultural”, da teoria da revolução sob a ditadura do proletariado, da luta contra o revisionismo, contra a evolução pacífica e a restauração do capitalismo.
Devemos escrever nos livros de história nacional as instruções sobre questões teóricas dadas por Mao Zedong em 1974? Eu acredito que elas devem sim ser escritas. Inclusive, podemos dizer que elas são uma descrição básicas do socialismo no período da ditadura do proletariado, que revela as bases, características e leis da luta de classes na sociedade socialista, apontando a direção política e econômica da transição ao comunismo. É claro, elas estão de acordo com as exposições de Marx, Engels e Lenin. Antes disso, Mao Zedong apenas falava do legado deixado pela velha sociedade, sem explicar os traços da velha sociedade no sistema socialista. No que diz respeito a teoria, ambos aspectos foram mencionados, enfatizando os traços do sistema capitalista na própria sociedade socialista, o que aprofundou o entendimento das contradições básicas do sistema socialista.
No documento “Resolução Sobre Certas Questões na História de Nosso Partido Desde a Fundação da República Popular da China ” há dois parágrafos que lidam com a “Revolução Cultural”. No parágrafo 24 da Resolução é possível ler:
pensamento e prática subjetivista, divorciada da realidade, parecia ter uma “base teórica” nos escritos de Marx, Engels, Lênin e Stálin porque certas ideias e argumentos colocados por eles foram mal interpretados ou dogmaticamente concebidas. Por exemplo, pensava-se que a igualdade de direitos, que reflete a troca de quantidade iguais de trabalho e é aplicável à distribuição dos meios de subsistência numa sociedade socialista, ou “Direito Burguês” como foi designado por Marx, deveria ser restrita e criticada, assim como o princípio de “para cada qual segundo seu trabalho” e que o interesse material deveria ser restrito e criticado; que a pequena produção continuaria a engendrar capitalismo e a burguesia diariamente e a toda hora em larga escala, mesmo após a conclusão básica da transformação socialista.
Este parágrafo foi finalizado por Hu Qiaomu. Naquela época eu e os camaradas que participavam da redação do documento todos concordamos. Hu Qiaomu particularmente tinha uma aversão forte ao termo “direito burguês”. Ele considerava que esse era um equívoco de Lenin. Hoje em dia podemos ver que essa posição não se sustenta e todos nós que concordamos estávamos errados. No entanto, nos livros de história nacional não precisamos criticar essa passagem da Resolução. Hu Qiaomu, de acordo com o desenvolvimento da situação concreta, também corrigiu o seu entendimento original sobre a ideia de que a pequena burguesia e a pequena produção, a cada hora e a cada dia, produzem capitalismo e burguesia em massa.
Em 1986, durante o processo de redação da “Resolução do Comitê Central do Partido Comunista da China sobre as orientações para a construção da Civilização Espiritual Socialista”, eu propus ao Comitê Central sugestões escritas de modificações e suplementos. Hu Qiaomu concordou comigo e adicionou a seguinte opinião: “O sistema de exploração capitalista possui uma história de aproximadamente 100 anos. Em determinadas condições, não é impossível que ele retorne. Isso é o que os camaradas do Comitê Central têm alertado repetidamente.” Isso demonstra que após a educação prática, Hu Qiaomu corrigiu e negou seu ponto de vista anterior.
Depois dos “distúrbios políticos” de 1989, o entendimento de todo o Partido ficou mais claro. Em 31 de maio de 1989, Deng Xiaoping disse que “as chamadas reformas propostas por algumas pessoas devem receber outro nome, nomeadamente, liberalização ou restauração do capitalismo. O centro de suas “reformas” é o capitalismo.” Em 9 de junho do mesmo ano, Deng Xiaoping, em “Discurso aos Oficiais do Comando Geral das Tropas que Aplicam a Lei Marcial em Pequim” afirmou: “essa tempestade chegaria cedo ou tarde. Ela é determinada pelo clima internacional e ao próprio clima interno da China. É algo que iria ocorrer inevitavelmente, independente da nossa vontade.” Deng Xiaoping claramente afirmou: “O incidente recente teve a natureza de um conflito entre a liberalização burguesa e a adesão aos Quatro Princípios Fundamentais. É verdade que falamos sobre seguir esses princípios, conduzir um trabalho ideológico e político e combater a liberalização burguesa e a poluição mental. Mas não falamos sobre essas coisas de forma consistente, e não houve ação nem menção à necessidade de ação.” Em 26 de maio de 1989, o camarada Chen Yun afirma claramente: “Este é um momento crítico, não podemos recuar. Se recuarmos, a nossa república socialista irá se transformar em uma república capitalista.” Após os distúrbios, essa visão converteu-se em consenso em meio a esmagadora maioria dos camaradas do Partido, exceto entre alguns grupos “elitistas” e aqueles profundamente influenciados por seus pensamentos.
Não precisamos criticar essa passagem da Resolução. Nós podemos escrever de um modo positivo de acordo com nossas próprias ideias.
No parágrafo 35 da Resolução afirma-se: “a luta de classes não constitui mais a contradição principal após os exploradores terem sido eliminados enquanto classe. Contudo, devido a fatores domésticos e influências do exterior, a luta de classes continuará a existir sob certos limites por um longo período a frente e poderá mesmo até se aguçar sob certas condições.” A prática posterior, especialmente depois dos distúrbios políticos de 1989 e a evolução pacífica na União Soviética e Leste Europeu, provaram que essa afirmação não corresponde a realidade. Depois dos distúrbios políticos de 1989, Hu Qiaomu afirmou que a principal contradição ainda era entre a burguesia e o proletariado.
A situação atual é a seguinte: depois da transformação socialista dos meios de produção ter sido basicamente concluída, a luta entre duas classes e dois caminhos segue sendo a contradição principal da sociedade socialista. Pelo fato de as classes dominantes ainda estarem sendo transformadas, a existência em larga escala da pequena produção e do sistema de mercadorias, as classes, as contradições de classe e a luta de classes seguirá existindo por um longo período, e a situação de tensão ou relaxamento dessa luta irá aparecer repetidamente, podendo se intensificar em certas condições.
Deng Liqun, tradução de Martinez
URL para a versão em chinês:
邓力群:毛主席无产阶级专政下继续革命的理论没错:
http://mzd.szhgh.com/xuexi/201502/76700.html
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