Ecodemagogia: chaga da causa ambiental (por Alberto Martins Silva)
- Não Informado
- 20 de dez. de 2018
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Em fevereiro desse mesmo ano, um duto que envenenava as águas de nascentes amazônicas com metais pesados foi descoberto em uma mina controlada pela mineradora norueguesa Hydro. A facilidade com que corporações têm conseguido se safar com seus crimes indica o quão atrasado o movimento pela causa ambiental é no Brasil. As razões para tal atraso são diversas, mas entre elas há que se destacar uma: a propagação da ecodemagogia.
Entre os estudiosos da conservação da natureza – sobretudo entre os mais críticos – o termo “ecodemagogia” tem se popularizado. A palavra é usada para descrever uma forma simplista de pensar a ecologia, que apela aos indivíduos, consumidores, e isenta os verdadeiros responsáveis pela degradação ambiental; A classe que determina como se dá a produção. A todo momento, pessoas comuns recebem a mensagem de que a degradação dos ecossistemas é de sua total responsabilidade e que portanto são capazes de transformar tal realidade adotando novos hábitos diários. Separando o lixo doméstico entre “seco” e “orgânico”, deixando de comprar calças jeans estonadas, gastando seu dinheiro suado em produtos “ecofriendly” e cumprindo todos os mandamentos da ecodemagogia à risca não haverá qualquer resultado significativo. Em primeiro lugar, mesmo sendo fiel aos princípios ecodemagogos, não há qualquer forma de garantir a origem “ecológica” do que se consome.
É ridículo – mas muito conveniente a quem lucra com o desmatamento, com a poluição dos ares e a contaminação de bacias hidrográficas – esquecer de que cada humano convive com outros 7,6 bilhões. Destes, 2,1 bilhões não tem sequer acesso à água, 4,5 bilhões carecem de saneamento básico seguro – em estatísticas imprecisas da UNICEF e da ONU – e pelo menos 108 milhões de pessoas no mundo sofrem com “insegurança alimentar”, ou seja, são privadas de consumir o mínimo de calorias diárias necessárias. Como exigir dessa grande porção da população um “consumo consciente”?
Pela ecodemagogia, os Estados imperialistas justificam seus ataques aos ecossistemas. Uma das medidas favoritas dessas economias predatórias é a compra dos “créditos de carbono”. A ideia é de que alguns países subdesenvolvidos, como o Peru, possam vender parte de sua cota à emissão de gases do efeito estufa (GEE) a economias industrializadas, que então emitirão “em seu lugar”. Portanto, não só não há não qualquer decréscimo global das emissões, como também se mantém o atraso dos países da periferia capitalista. Como resultado disso, as nações pobres são ainda mais pressionados a voltarem suas economias ao cultivo de grandes monoculturas com grande poder destrutivo, como o cultivo de soja no Brasil.
Devemos ter em mente que, dentro das exigências de lucratividade do sistema capitalista e imperialista não existe qualquer perspectiva de sustentabilidade. Qualquer luta pela preservação da natureza se desenrolará no sentido oposto a esses interesses. Para o Capital a única garantia deve ser a de manutenção da propriedade privada, enquanto para o imperialismo é a manutenção da subordinação de suas colônias.
O presente artigo foi redigido por Alberto Martins Silva, estudante de biologia da UFRGS e simpatizante do Movimento Nova Pátria
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