Globo: Amor, Liberalismo & Sexo
- Jornal A Pátria
- 30 de jan. de 2017
- 4 min de leitura
(Bruno Torres, 30 de janeiro de 2017).

A Globo não tem problema de reivindicar o feminismo. A ideia “base” de feminismo, aparentemente, não os desagrada. Está dentro do prisma de uma sociedade mais civilizada, mais “tolerante” e liberal.
Eles (a globo) não se espelham na Europa medieval e “inculta”, mas justamente na Europa liberal e moderna, assim como nos Estados Unidos, um país já mais “esclarecido” que tolera os relacionamentos homoafetivos e beijos gays, há muito tempo, nas produções televisivas do horário nobre. Obviamente, são países empurrados como símbolos de liberdade sexual, ou no caso, países onde tal agenda “tem avançado mais” do que em outros.
É de um simplismo querer colocar a mídia tal qual a globo como uma reprodutora de uma moralidade conservadora e antiquada. Quem defende com unhas e dentes uma moralidade deste tipo, audíveis aos pastores de igreja, saudosos de uma moral quase que feudal, são mídias como a Rede Record, canais de Igreja, e as próprias Igrejas em nossos bairros. Esse é o papel deles, não da Globo.
A Globo vai defender (e hoje ela tem se consolidado neste caminho), a percepção falaciosa de “liberdade sexual”. Vai se opor aos conservadores que enxergam as prostitutas como escórias que merecem tudo de ruim e apoiar como exemplo de tratamento às mulheres, os países que colocam prostitutas em vitrines, ao lado de tabelas de preço, colocando explicitamente uma mulher como mercadoria, porque naquele país há uma verdadeira “liberdade sexual”. Amsterdã que o diga.
A Globo vai colocar como modelo de combate ao machismo, não a atuação nas superestruturas morais, culturais, políticas e ideológicas com as mulheres no núcleo dessa atuação politizada – como ocorreu em países revolucionários –, mas a falácia da “representatividade a qualquer custo” que ela abraçou sem nenhum problema, já que lhe serve muito bem, que é nada mais do que botar qualquer mulher no preenchimento de cargos independente da agenda que essa mulher vá defender, afinal, “fazer mulheres ocuparem espaços”, sem levar em conta a agenda que essa mulher, na prática, defenda, vai ser “necessariamente bom”, não é mesmo?
Não, não será necessariamente bom. Não para as causas populares, inclusive não será necessariamente bom nem para as próprias mulheres. Mas a Globo não ver problemas em permitir isso em seus programas e incentivar essa linha ideológica, mais audível a contemporaneidade burguesa, em seus meios.
O caso do programa “Amor & Sexo” não foi novidade, apesar de ter sido colocada dessa forma. Há algum tempo ela, a Rede Globo, tem tentado “avançar” este tipo de agenda por meio das novelas em horários nobres. Muitas vezes isso causa furdunço na sociedade, discussões, e os setores mais alinhados moralmente ao “conservadorismo” – do que ao liberalismo – até colocam como “alternativa”, aos programas e novelas liberais da Globo, as novelas da Rede Record, afinal, são novelas que não têm “pouca-vergonha”, como dirá o pastor ou o dizimista da Assembleia de Deus.
Igualmente há matérias temáticas sobre estes temas em alguns programas de importância, sobretudo no Profissão Repórter – houve uma matéria de destaque sobre o “Lola escreva Lola”, por exemplo. Há também o convite, por parte da Fátima Bernardes no seu programa matinal, de feministas – das mais genéricas até as que falam mais especificamente em “feminismo negro”, “feminismo interseccional”, etc. Em quase todos esses casos, quando ocorre, o tema passa a ser central nos episódios do programa matutino.
O NaMoral de Pedro Brial foi outro programa que segue essa linha. Quando o tema foi homossexualidade, colocaram 3 especialistas para debater numa roda em que também se encontrava Silas Malafaia. Isso, tirando o próprio programa e o Bial, que se colocou contra as ideias do Malafaia, como um reforço e amparo aos próprios três nomes de prestígio que estavam ali convidados de forma deliberada. Era evidente que havia sido algo orquestrado para isolar o conservador Silas Malafaia, para descreditá-lo em rede nacional. O que por si só não é ruim, mas a intenção foi isolar e superar Malafaia por um prisma revolucionário? Não… foi sob um prisma liberal!
Setores de tais movimentos identitários, ficaram maravilhados com o famigerado programa Amor & Sexo. Acharam “empoderador”, “um programa com muita representatividade”, houve até quem em toda sua empolgação reproduzisse o jargão de que eles “lacraram na cara da sociedade”. E eu não discordo de nenhuma dessas proposições: o programa foi tudo isso mesmo: teve representatividade, lacre, etc.
O ponto é: isso, não necessariamente, foi algo bom. Na verdade, justamente só prova o quanto o conceito de empoderamento, representatividade e de “lacre” são uma completa excrescência, essencialmente limitados e um amontoado de inutilidade.
A Rede Globo consegue defender absurdos por meio de uma linguagem supostamente desconstruída, e por meio de um programa “representativo”, e a “esquerda” aplaude.
Se os revolucionários, que possuem leituras mais aprofundadas acerca do tema, apontam todos os problemas desse programa e de tal episódio (me refiro aqui ao Amor & Sexo), felizarda é a Globo, que por meio do programa, agora terá milhares e milhares de feministas para defender todas as propostas ali apresentadas, e se você discordar, obviamente é porque é “machista” ou, se for mulher, com certeza você é “uma mulher que não defende os interesses femininos”.
“Como discordar da sabedoria da Fernanda Lima, da feminista Djamila, e do grupo Globo?! É evidente que você é um conservador! Seu lugar? É, quem sabe, assistindo a rede Record”.
Se coloca aí a dicotomia.
Se eu não quero ser adepto de uma moral liberal, eu sou conservador. Se eu não quero ser adepto de uma moral conservadora, eu sou liberal.
Não conseguem fugir disso, constroem assim um beco sem saída ilusório.
Nos lembra que a maioria da direita brasileira, é liberal na plataforma econômica, e conservadora na agenda moral. E a esquerda é apenas reformista na plataforma econômica, e liberal na agenda moral!
E essa (falsa) dicotomia é o que aflige a qualquer revolucionário.
Precisamos de uma plataforma revolucionária no âmbito econômico e político, e apesar de, mesmo isso, não ser um amplo consenso (devido aos setores reformistas da esquerda), parece ser algo mais claro entre a militância.
Entretanto, precisamos ter também uma agenda revolucionária para a MORAL, e isso parece que é MUITO mais difícil de se ter claro na cabeça da militância. Isso se evidencia mais que nunca quando a gente tem setores da esquerda que tem como modelo moral de “subversão” um programa televisivo da Globo.
Se por um lado esse incidente do Amor & Sexo contribuiu com a despolitização de setores do movimento de mulheres, por outro, já ajuda a separar o joio do trigo, mostrando os setores da militância que, na prática, sempre defenderam uma agenda liberal e contrarrevolucionária, mas agora o fazem de forma cada vez mais aberta.
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