Grilos fizeram ruídos atribuídos a ataques sônicos em Cuba, dizem cientistas
- Jornal A Pátria
- 7 de jan. de 2019
- 2 min de leitura
O estardalhaço diplomático que isso gerou não foi brincadeira. O país que confunde sons de insetos com "ataques sonoros" quer que acreditem neles quando afirmam que houve "ataques químicos" na Síria.

NOVA YORK — Em novembro de 2016, diplomatas americanos em Cuba se queixaram de sons persistentes e agudos que eles acreditavam serem a causa de uma série de sintomas que eles passaram a apresentar, como dores de cabeça, náuseas e perda auditiva.
Na época, levantou-se a suspeita de que as autoridades estavam sendo alvo de ataques sonoros na ilha. Mais de dois anos após a polêmica, no entanto, cientistas chegaram a uma conclusão curiosa: o barulho que os diplomatas ouviam era, na verdade, o canto de grilos cubanos.
Na última sexta-feira, cientistas da Universidade da Califórnia e da Universidade de Lincoln, no Reino Unido, revelaram a descoberta durante o encontro anual da Sociedade de Biologia Integrativa e Comparativa (SICB, sigla em inglês).
Os pesquisadores analisaram gravações dos sons, publicadas pela agência Associated Press (AP), e concluíram que seus padrões acústicos, como taxa de pulso e as frequências mais fortes, eram muito semelhantes às de certos tipos de inseto.
Os cientistas confrontaram os padrões com os de outros insetos, comparando o ruído com outros disponíveis num banco de dados on-line da Universidade da Flórida. A partir disso, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o som que adoeceu os diplomatas era muito próximo a uma espécie particular, o grilo de cauda curta das Índias.
A revelação não significa necessariamente que os diplomatas não sofreram ataques. Entretanto, os barulhos que eles ouviam e julgavam serem armas sônicas não eram, de acordo com as gravações da AP, nada além do som dos animais.
Os pesquisadores atribuíram as pequenas diferenças entre o som registrado pelos diplomatas e o som do grilo de cauda curta à maneira como foi feita cada uma das gravações. Enquanto as autoridades gravaram o ruído dentro de casa, sujeitas a interrupções, o som disponibilizado no acervo da Universidade da Flórida foi captado diretamente da natureza. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores emitiram o som do acervo da universidade dentro de um cômodo, e perceberam que ele reverberava de maneira semelhante ao que era ouvido na gravação dos diplomatas.
— Há muito debate na comunidade médica sobre qual dano físico estes indivíduos de fato sofrem, ou se os houve. Tudo o que posso dizer é que, definitivamente, a gravação divulgada pela AP é de um grilo — explicou Alexander Stubss, pesquisador da Universidade da Califórnia, ao jornal "New York Times". — Os sons desses grilos são incrivelmente altos. É possível ouvi-los de dentro de um caminhão a diesel andando a 65 quilômetros por hora na estrada.
O GLOBO
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