Mesmo na Dinamarca: Capitalismo É Crise
- Jornal A Pátria
- 10 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de ago. de 2019
Lar do maior índice de igualdade de riqueza do mundo, a Dinamarca é
frequentemente citada como um exemplo de sucesso de um modelo “misto” capitalista: o amado “estado de bem estar social”. Uma pesquisa do abcNews chegou a considerar, em meados de 2006, o país como o lugar mais feliz do mundo devido a seus princípios de saúde, bem-estar, assistência social e educação universal.
Lar também de 25 áreas caracterizadas por sua população predominantemente
muçulmana e de baixa renda, o país anunciou em março de 2018 um pacote nefasto de
medidas de cunho xenofóbico digno dos livros de história. Apresentada no parlamento
dinamarquês com o nome de “pacote do gueto”, já deixando claro o tom preconceituoso das propostas, teve a maioria das medidas já aprovada no órgão, aquecendo os corações podres dos supremacistas do país e dando mais força à nojenta onda anti imigração mundial.
Em 2015, num dos pontos mais altos da crise dos refugiados na Europa, ocorreram
as eleições que deram força ao Partido Popular Dinamarquês e estão sendo o combustível das medidas arcaicas que hoje vemos. Leis que obrigam que crianças filhas de imigrantes fiquem separadas dos pais durante 25 horas por semana durante as quais passarão por um processo de reeducação dinamarquesa, abrangendo tradições cristãs e o idioma dinamarquês, com cancelamento de direitos de seguridade social caso haja
descumprimento das medidas. Seguindo uma linha fascista, também se pretende dobrar as penas a certos crimes se cometidos em algum dos 25 “guetos”(como chama o primeiro ministro do país) usando como base a renda, escolaridade, situação empregatícia e o tal “contexto não-ocidental”, clarificando o tom extremamente xenofóbico das medidas.
A cruzada supremacista da Dinamarca chegou a seu ápice quando recentemente foi
anunciado um acordo entre o governo de centro-direita e o partido de extrema-direita
Partido Popular Dinamarquês, hoje a segunda maior força política do país, para a
realocação de aproximadamente 100 pessoas de origem estrangeira na Ilha Lindholm
ligada ao país por trajetos de balsa de aproximadamente 20 minutos de distância.
Planeja-se concentrar as pessoas em uma prisão desativada e com forte presença de
forças policiais. Dentre essas pessoas destinadas ao projeto de campo de concentração na ilha, encontram-se ex-condenados estrangeiros e pessoas cujo pedido de asilo no país tenha sido negado e que estejam impossibilitadas de regressar a seu país de origem.
Por mais que os números da mídia pintem um modelo de país a ser seguido, na
prática mostra-se a verdadeira face capitalista, deixando claro que as benesses nesse
sistema sempre vêm às custas do sangue dos povos oprimidos e das classes exploradas. Assim como em outros países nórdicos de modelo semelhante, nota-se que suas políticas progressistas de igualdade e justiça são contraditórias e limitadas quando inseridas numa matriz liberal. Matriz essa que não hesita em pisar nos povos oprimidos para preservar o status quo. A “esquerda liberal” ingênua compra o discurso, sendo conivente com violações desumanas de uma mínima noção de dignidade básica em nome de um falso progressismo.Não há a compreensão de que essas políticas positivas, quando numa base liberal, são dependentes da boa vontade do capital e são sacrificadas sem pestanejar quando estão no caminho dos interesses capitalistas mesmo nas nações aparentemente mais alinhadas com princípios progressistas. O primeiro passo, então, para a plena busca pelo bem estar duradouro da raça humana vem com a derrubada da contraditória lógica capitalista. Enquanto não houver um alinhamento intrínseco da sociedade com a libertação plena, estaremos à mercê dos gigantes capitalistas e de seus planos nefastos.
Ao tentar fugir das zonas de guerra no oriente médio, muito motivadas pela gula
petrolífera capitalista para tentar a sorte num país aparentemente igualitário e modelo para o mundo, vários se deparam com um Estado xenofóbico e racista, que não hesita em tomar medidas cruéis e desumanas para manter as aparências de casa arrumada, escondendo sua podre face eugenista.
Mais e mais os malabarismos liberais são derrubados pela realidade e fica claro às
massas que não há verdadeira e plena libertação dentro de um sistema capitalista, não
importando o quão justo ele possa parecer de longe.
A libertação das classes exploradas não pode depender dos interesses e da
caridade da classe exploradora ou sempre haverá a sombra da tirania escurecendo o
horizonte do desenvolvimento humano.
por Arthur Knevitz
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