“Meu avô viveu a ditadura e disse que a época era muito boa”, disse Zé Fulano na Internet
- Jornal A Pátria
- 31 de jul. de 2018
- 3 min de leitura

“Meu avô viveu a ditadura e disse que a época era muito boa e que ninguém era assaltado.” – disse Zé Fulano na Internet.
A opinião pessoal de uma pessoa ou de seu avô (que pode muito bem ter sido militar, empresário ou político da era) não é argumento para se entender uma sociedade. Até porque meu avô tem uma opinião contrária.
O governo de Idi Amin em Uganda é considerado uma das mais brutais do mundo. Mas muitos ugandenses acreditam que ele foi um excelente líder.
O governo de Saddam Hussein foi problemático e brutal em vários sentidos. Mas muitos iraquianos (entre eles, gente que derrubou suas estátuas e afirmam ter sofrido em seu governo) sentem sua falta agora que experimentaram a “democracia e a liberdade” dada pelos EUA.
A Arábia Saudita é considerada um dos piores países do mundo para ser mulher. Mas se perguntar a uma mulher Saudita o que ela acha das leis restritivas a mulheres em seus países, muitas dirão que concordam.
O governo de “Baby Doc” Duvalier no Haiti foi marcado por corrupção, pobreza, abusos e violência política. Por causa disso, foi derrubado e fugiu do país. Em 2011, pode voltar do exílio e, ao descer do Aeroporto, uma multidão de haitianos estava lá para recebê-lo calorosamente de volta com cânticos de apoio como “Eis o meu Presidente!”.
Muitos colombianos lamentaram a morte de Pablo Escobar. O brutal narcotraficante foi responsável por desenvolver vários projetos sociais em Medellín. Aliás, não faltam no mundo cidadãos que vivem sob o jugo do Narcotráfico mas admiram seus brutais chefes de cartel.
Muitos portugueses sentem falta de Salazar, muitos indonésios sentem falta de Suharto, muitos filipinos sentem falta de Ferdinand Marcos – a despeito do autoritarismo, brutalidade e corrupção que marcou esses regimes.
Dezenas de países no mundo ainda são governados por ditadores, líderes corruptos, mafiosos, terroristas. Os fatos demonstram que esses países tem problemas sociais, econômicos e políticos graves. Mas, se perguntar a algum deles a “opinião pessoal” sobre como é a vida lá, eles vão dizer que é ótima, que o líder deles não é um ditador ou corrupto, etc.
Hoje, os alemães sentem vergonha e asco de Adolf Hitler. Um alemão em 1944 certamente mataria – e se mataria – por seu amado Fuhrer.
Dito isto, é fato de que a Nostalgia pelo Socialismo na URSS é forte entre os russos. Eu mesmo posso dizer que a opinião de muitos russos com quem conversei e converso sobre a URSS e o Comunismo é a favor deles.
Pesquisas dizem que figuras vistas com asco no Ocidente como Stálin, Lênin, e até Brejnev e Putin são admiradas pela maioria dos russos, enquanto figuras responsáveis pelo fim da URSS como Gorbatchov e Ieltsin são odiadas pela maioria (Link 1, Link2) e uma pesquisa feita em 11 ex-repúblicas soviéticas mostram que em 7 delas, a maioria da população viu mais prejuízo do que benefício na dissolução da URSS, com os mais velhos – que viveram a época – os que mais vem prejuízo. (Link 3). Da mesma forma que vários Europeus do Leste sentem falta também do Socialismo (Link 4) . Há inúmeras outras pesquisas de institutos diferentes em anos diferentes – mas todas elas ressaltam essa tendência.
Claro que a opinião pessoal dos antigos moradores da URSS, do Leste Europeu, e outros países socialistas não é argumento definitivo para a vida na URSS e o Socialismo. Até mais porque dentro do próprio Campo Socialista haviam várias diversidades políticas e ideológicas no planejamento de como construir o Socialismo e também várias discordâncias entre comunistas pelo mundo.
Mas percebam que a MAIORIA dos que viviam em país Socialista defendem o legado do regime, enquanto aqui no Brasil nossa “gloriosa revolução redentora” é vista como tendo deixado mais realizações negativas do que positivas para o país por uma parcela duas vezes superior à dos avaliam o contrário. E a maioria prefere a Democracia do que uma Ditadura – embora críticos de nossa democracia burguesa. É o que diz pesquisa Datafolha (Link 5). Outra pesquisa, do Instituto Paraná Pesquisas, mostra que quase 60% dos brasileiros são contra a Intervenção Militar (Link 6) Embora, em se tratando do Instituto de tendência conservadora que disse que Aécio ganharia as eleições em 2014 por uma ampla margem, eu tenho a impressão que é bem maior que 60%.
Feliz Copa na Rússia – país onde, apesar de todos os problemas, a simbologia dos tempos soviéticos ainda é bem vista em todo lugar.
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