O centrismo no debate entre Stálin VS Trotsky
- Jornal A Pátria
- 2 de dez. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de dez. de 2019
(Bruno Torres, 2 de dezembro de 2019)

No seio da ortodoxia marxista, frases e justificativas tais quais como "Stálin tem seus méritos, mas também tem seus erros, assim como Trotsky tem seus méritos e seus erros", é tentar dizer tudo e não dizer nada.
Essa linha de ficar em cima do muro, pretensamente "sábia", uma linha mais "sóbria" para se colocar como um debatedor racional e intelectual acima de polos emocionados, não consegue ultrapassar essa fronteira: a da retórica, da performática.
É óbvio que a Era Stálin na URSS "tem seus méritos e tem erros", é óbvio que a figura Trotsky "tem seus méritos e tem seus erros". O problema, é que essa frase pode ser usada até para a figura de um Rei medieval de que ele "tem seus méritos e seus erros". Eu posso simplesmente usar isso para qualquer sentença, e ao mesmo tempo não me comprometer a tomar posição com absolutamente nada.
Fazer uma apuração científica de Stálin e do trotskismo não significa ser "imparcial". Buscar precisão de informações, não significa que ambos "são a mesma coisa".
Quem, escreveu documentos por ocasião da ascensão do fascismo que declarava muito claramente a intenção e defesa – perante os soviéticos – de que "o povo soviético" deveria derrubar Stálin por meio da força (leia-se: armas, o que pode se desembocar até em aniquilamento)?
Quem, muito antes de ser morto por Mercader, provavelmente forjou um atentado que incriminava a URSS num contexto tão hostil aos comunistas quanto a Guerra Fria?
Seja você um acadêmico ou não, um pesquisador ou não, defender o rigor científico, não significa que você não deva ter certos princípios. Dentro do que convém chamar de “tradição comunista”, uma sequência absurda de atitudes como as que León Trotsky cometeu – e o papel que ele desempenhou no Exército Vermelho na insurreição de outubro, pouco reduz a gravidade dos seus erros – deve ser considerada em balanços históricos de historiadores que pretendem reivindicar o marxismo.
Na contrapartida, quanto mais lemos sobre Stálin, as fontes anticomunistas começam a perder frouxidão, e muitas das acusações e comparações trotskistas soam como exagero, distorção ou mentira. No caso de Krushev, que os trotskistas bebem muito da fonte do relatório "secreto", embora não sejam da mesma linha política que ele, você tem uma infinidade de acusações “toscas” que Krushev alegava poder ser embasada por documentos soviéticos e as mais diversas fontes. As comparações dessas acusações com o arquivo soviético que se tornou aberto após o colapso Gorbatheviano demonstram que o relatório de Krushev não resiste ao mínimo questionamento e a comparação com as fontes que o próprio Nikita dizia se referendar.
A quem interessa essa concepção mais ou menos "imparcial", de tentar equiparar os dois? Esse "centrismo" dentro do debate sobre "stalinismo", essa sina de "Stálin é bom, mas é ruim", ao mesmo tempo que regam “simpatias parciais” ao renegado León, não tem a ver com rigor ou não rigor acadêmico, mas sim com conciliação discursiva.
Essa posição conciliadora sobre o tema vai existir desde o pretensamente maior intelectual ao jovem recém egresso numa juventude política que nunca leu dois parágrafos sobre o tema, e que acha que isso "divide a esquerda", portanto, “não deve ser debatido”.
Do influencer ao influenciado, do "intelectual" ao neófito, a raiz da posição está na conciliação do debate, muito mais do que o aprofundamento do conteúdo deste mesmo debate.
Não devemos abandonar a necessidade de se pautar ressalvas – embora todas elas devam ser minimamente compreendidas e contextualizadas –, inclusive porque estas ressalvas mínimas podem nos ajudar a tomar lições sobre atitudes ou ações que não devam ser repetidas para que evitemos a repetição histórica de algo como a ascensão de um Krushev. Mas claramente, aqui, este não é o caso.
As supostas "lições” tiradas são mescladas com conciliações retóricas, podendo se encher de livros e supostas referências de prestígio, não na busca por aprender mais e se posicionar com o aprendizado, não por ter mais clareza sobre os crimes cometidos por certo renegado histórico, mas sim para justificar uma posição pré-estabelecida de conciliação e "esfriamento" do tema porque ela é supostamente mais “racional”.
Entre as pessoas e agremiações políticas que botam panos quentes na discussão sem querer de uma forma mais categórica e incisiva tomar partido sobre Stálin ou Trotsky, pergunte-se: Os quão comprometidos nas críticas ao período Krushev-Brejnev-Gorbathev? Quais críticas fazem sobre o XX Congresso do PCUS? Há quem se defina como comunista, como leninista, como alguém “além” deste debate, mas correm em frangalhos quando perguntado sobre uma posição formal das consequências do XX Congresso para o movimento comunista de todo o mundo.
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