O nacionalismo oco de Bolsonaro sobre a Amazônia
- Léo Camargo
- 30 de set. de 2019
- 6 min de leitura
Em discurso na Assembleia geral da ONU, Jair Bolsonaro evoca o conceito da soberania
nacional para tratar das questões da Amazônia. Utiliza de um palavreado como se saísse da boca de um verdadeiro patriota. Entretanto seu discurso rivaliza com suas ações quando se trata de questão nacional e, ainda por cima, cria uma falsa polarização entre diferentes formas de dominação de forças estrangeiras dentro de nosso país.

Em discurso na Assembleia geral da ONU, Jair Bolsonaro evoca o conceito da soberania
nacional para tratar das questões da Amazônia. Utiliza de um palavreado como se saísse da boca de um verdadeiro patriota. Entretanto seu discurso rivaliza com suas ações quando se trata de questão nacional e, ainda por cima, cria uma falsa polarização entre diferentes formas de dominação de forças estrangeiras dentro de nosso país. Transcreveremos sua citação:
”Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da
mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista.
Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania!”
Bolsonaro apontando o dedo para países “com espírito colonialista” sobre nossa nação?
Será que estamos diante de uma luz genuinamente anti-imperialista?
Veremos isso mais adiante.
Em outra citação do discurso ele é mais específico sobre os "colonialistas":
”Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.”
É a partir daqui que a realidade vai derrubar a falácia de Bolsonaro. Mas antes de desvelar seu discurso vamos tratar superficialmente das ONGs, institutos e fundações como ponto de partida.
As ONGs na Amazônia
De fato, os organismos filantrópicos é um problema enorme a ser resolvido na Amazônia, e ainda mais prioritário pelo lado da questão nacional.
Estes organismos é um tipo de instrumento de articulação de classe, dentre vários, utilizado pela burguesia, em essência dos países imperialistas, como formas de dominação de outros países. Não nos enganemos, isso tem história no mundo, bem fundamentada e antiga.
Em 2008, um levantamento feito pela ABIN e encaminhado ao Ministério da Justiça apontou
25 ONGs com atuação na Amazônia suspeitas de biopirataria, compra ilegal de terras,
interferência indevida em áreas indígenas e exploração de recursos minerais.
Exemplos de destaque é a Amazon Conservation(ACT), de origem americana e que tem a
USAID como patrocinadora, que é acusada de desenvolver campanhas para compra de terras e suspeita de biopirataria. Dados coletados pela Abin, essa entidade repassaria conhecimentos indígenas sobre substâncias extraídas de plantas e animais a laboratórios estrangeiros ligados à produção de cosméticos e medicamentos. Grupos indígenas chegaram a acusar a ACT de não prestar contas e nem repassar recursos prometidos às aldeias.
A Pró-Yanomami(CCPY), segundo as anotações da Abin, chegou a fechar um convênio com o
laboratório americano Shaman Pharmaceuticals, sem o conhecimento da Funai ou da
Fundação Nacional da Saúde (Funasa), para repassar conhecimentos tradicionais dos índios
sobre medicina em troca de recursos, o que caracterizaria, segundo o governo amazonense, a prática de etnobiopirataria.
A Cool Earth, dirigida pelo milionário sueco Johan Eliasc, que oferece terras pela Internet no
Amazonas, Mato Grosso e em determinadas regiões do Equador com o pretexto de arrecadar
dinheiro para preservação de áreas "adotadas". Eliasc é suspeito de ter utilizado laranjas para comprar cerca de 160 mil hectares no Amazonas e de estimular outros empresários ingleses a comprar terras na região sob o argumento de que a bandeira preservacionista é um bom negócio.
Outa ong é a WWF, que possui uma estreita relação com o governo britânico ao ter entre seus fundadores o até então consorte da Rainha Elisabeth II, Príncipe Phillip; O ex-comandante-geral do Exército britânico, sir Frank Chapell, assim como o marechal lorde Alan Brooke, ex-chefe de Estado-Maior do Reino Unido.
Aliás, como foi citado acima a USAID, esta ONG patrocina diversas outras organizações na
Amazônia como a ISA e a CI. Também celebrou em abril de 2018 um acordo sobre o Programa de Conservação da Biodiversidade da Amazônia em uma cerimônia com participantes do Brasil, onde participou o Instituto Chico Mendes (ICMBio) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI).
A USAID é aquela organização que tentou "ajuda humanitária" - infiltrando armas através dela - na Venezuela mas deu com os burros n'água, pois o governo venezuelano a expulsou do país.
Como de longe a questão das ONGs na Amazônia é um tema denso e já registrado em muitos estudos, cito aqui um relatório da OFTA(Observatório de Fenômenos Transnacionais nas Américas), órgão ligado a presidência da república, que publicou em 2008 o Caderno Especial Amazônia, que reúne artigos que analisam o ambientalismo e a atuação das ONGS na Amazônia, biopirataria e os cenários de intervenção direta e indireta na Amazônia.
Os arroubos “nacionalistas” de Bolsonaro
É aqui que a prática se mostra como o critério da verdade para conseguirmos ver que não há
alinhamento entre o discurso de Bolsonaro das suas ações. É tudo da boca pra fora.
Por acaso há algum decreto assinado pela caneta Bic do Bolsonaro que estabeleça controle
sobre estas ONGs? Que tome medidas de punição à elas e que determine até a expulsão das
mesmas?
Não. Não tem.
O exército está sendo orientado no sentido de proteger o território brasileiro, no âmbito da
Amazônia, na identificação de todas as ilegalidades praticadas pelas ONGs citadas acima?
Não. Não está.
Há programas para as populações indígenas prestarem serviço militar em massa, no sentido de ajudar na proteção do território amazonense contra as ingerências das ONGs que, através de seus líderes indígenas cooptados, convidam reis da Noruega a se estabelecer em território
brasileiro sem o devido conhecimento da embaixada brasileira?
Também não há. Os integrantes da casa real norueguesa circulam livremente em território
brasileiro e Bolsonaro não dá um pio.
Que espécie de patriotismo é este que não enfrenta os verdadeiros problemas da nossa
nação?
É o patriotismo da boca pra fora, que se traduz na realidade pelo mais puro entreguismo.
Qualquer genuíno nacionalista que combata os países de “espírito colonialista” partiria para a
ação contra todo este estado de coisas que afligem nossa pátria. Recorreria a memória de
grandes patriotas, como Marechal Cândido Rondon, que tem densos escritos pela questão
indígena. Rondon, é citado pelo saudoso Darcy Ribeiro, como o primeiro brasileiro a tratar
corretamente a questão indígena.
A indígena Ysany Kalapalo, lamentavelmente utilizada como peça de manobra, é uma das
muitas vítimas do onguismo missionário, que capturam fisicamente e ideologicamente índios e índias ainda crianças, as separam do seio da família, para servir de exemplo dos interesses
exploratórios na região amazônica. Na fase adulta, já consolidada por uma educação voltada a representar os exploradores, trabalham a serviço daqueles que tem enormes interesses
particulares em detrimento do coletivo nacional.
Se, por acaso, a aparência de Bolsonaro lutar contras as ONGs mostrar alguma veracidade, ela cai por terra ao constatarmos sua completa inação diante das atividades dos organismos
filantrópicos e, ainda por cima, se utiliza de um tipo de onguismo missionário para justificar seu discurso.
A perpetuação da economia dependente
Do outro lado, temos o modelo de exploração da Amazônia defendido por Bolsonaro, que é a
continuidade das relações de dependência historicamente desenvolvidas no Brasil e que todo nacionalista de nossa história buscou romper.
Quem deliberadamente provoca queimadas na regiões amazônicas é a histórica e apátrida
burguesia burocrática e compradora brasileira, que associada ao imperialismo, explora no
modelo exportador e predatório os recursos naturais de nossa nação.
Sob a tutela de Bolsonaro essa burguesia anti-nacional superexplora a força de trabalho do
brasileiro para satisfazer as necessidades de consumo de bens materiais dos mesmos países
que “reclamam” a proteção ambiental sob o escudo onguista.
É a Alemanha, Inglaterra, França, Noruega e outros países da centralidade do capitalismo que
consomem as madeiras caríssimas das florestas virgens, a carne da pecuária extensiva em
territórios desmatados e as sojas, milhos e algodões.
E Bolsonaro levantou essa questão da dependência econômica?
Não, por que, na mais crua realidade, ele é o legítimo representante dos países “com espírito
colonialista”.
O que se desenrola desta situação é o apoio de Bolsonaro a burguesia burocrática/compradora associada ao imperialismo e uma parte da esquerda que antagoniza apoiando os reclames dos chefes de estado onde se originam estas ONGs.
A verdadeira independência nacional
Por fim, na busca pela nossa verdadeira soberania, nós, o povo brasileiro, temos a tarefa
imperiosa de romper com toda e qualquer forma de dominação dos índios, caboclos, caipiras, sertanejos, etc. Em suma, de todo o povo brasileiro!
Identificar todas as formas de dominação, seja ela como instrumento de classe ou de
intervenção direta, e esmagar impiedosamente com mãos brasileiras.
Somos uma nação forjada em enormes contradições, que só poderão ser resolvidas entre nós mesmos, sem terceirizar os problemas particulares à nossa pátria.
Por Léo Camargo, Operador de máquina de celulose, 38 anos, pai e preocupado com a questão nacional
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