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Opinião: Damares e as derrotas da esquerda no debate moral

Atualizado: 6 de fev. de 2020

Debate moral: vamos colecionar mais uma derrota acachapante

Marcha das Vadias, 9 de agosto de 2014. Crédito: Mídia Ninja.

Muito me preocupa as seguidas derrotas que estamos sofrendo (todos que não votaram na plataforma eleitoral de Bolsonaro). Viramos meros contempladores de derrotas. Observamos tudo pacificamente e não sabemos como e quando reagir. Todo aparato de resistência popular está atônito e, mesmo após a tão comemorada liberdade de Lula, a inércia é total.

Mas esse não é o foco da reflexão.


O debate atual de certos setores da dita “esquerda” e “campo progressista” é sobre o pronunciamento e proposta da ministra Damares sobre abstinência sexual.


A perplexidade foi praticamente unânime entre esses setores. A rejeição foi natural e a propaganda dela também. Todos os pseudo vanguardistas sexuais, os teóricos do amor livre e da concepção de poligamia revolucionária deram as caras. O debate caiu como uma luva para eles. E, para nossa infelicidade, caiu como uma luva para a direita também.


Não sei se por má fé, por pura inocência ou excesso de vaidade, mas é certo que cair nessa disputa narrativa não irá agregar nada mais do que “likes” de uma bolha que debate isso há anos e ainda não conseguiu “convencer” os amplos setores da sociedade com suas “iluminadas” teses.


Entretanto, ao olhar para os resultados práticos da tática dos falsos moralistas, observamos a eficácia do método. A finalidade é atingida.


A postura da Ministra, que por vezes é tida como chacota por nós, está garantindo pra ela o posto de segunda pasta mais importante em termos de reconhecimento popular. Damares é hoje, depois de Sérgio Moro, a segunda mais popular e mais bem avaliada do governo. Os portais de notícias ligados ao bolsonarismo já cogitam candidatura dela graças a essa popularidade. Dizem eles que só depende dela.


Ora, por que a notoriedade dela cresceu tanto? Será que é apenas por causa do aparato religioso que há por trás?


Damares cresce em popularidade porque sua pauta é a moral. Ela e sua equipe, por estar nos círculos religiosos, conseguem fazer a leitura certa da moral “média” dos trabalhadores. Eles se conectam diretamente com os incômodos morais e interpretam isso em bravatas nos discursos, materializando nas práticas ministeriais. Eles se aproximam, escutam e trabalham em cima disso. Fazem o que não fazemos.


E resumir esse resultado ao público evangélico é um erro grotesco. Só denuncia quanto esse campo que roga ser o defensor dos interesses dos trabalhadores, em nada entendem este sujeito. Nada entendem de disputa ideológica.


Acreditam que o fato da comunidade escutar e dançar o “passinho” é suficiente, como se essas canções significassem algo além da hipersexualização dos jovens e crianças, para a disputa moral. Se não acham suficiente, compreendem e fazem malabarismo para enquadrar isso numa espécie de etapa da disputa moral. Cretinice pura. Em nada isso muda a realidade moral média da classe trabalhadora. Ela hoje pode ouvir o passinho, mas amanhã vai concordar com Damares quando ela vier com suas frases de efeito e suas propostas de abstinência sexual.


O trabalhador vive numa disputa moral, ética, espiritual e, consequentemente, ideológica todos os dias. Freneticamente. É natural sua oscilação, é natural um caráter dual entre aquilo que é degenerado e o que é novo (entendendo o novo como o máximo desenvolvimento do espírito de solidariedade, hombridade, ética). É por entender e por saber trabalhar com esse fenômeno que eles estão ganhando. Podemos até entender, acredito que uma parte até se esforça pra entender e formular, porém, não estamos sabendo trabalhar.


E a prova cabal disso é o uso de materiais, formulações, vídeos, etc. produzidos pela esquerda como contrapropaganda da própria esquerda.


Não sabemos como contra atacar porque não temos uma proposta concreta para esses problemas. Perdemos e vamos continuar a perder por não dialogarmos com a espiritualidade dos trabalhadores. Será uma derrota acachapante porque nossos métodos são medíocres, restritos a setores “iluminados” e acadêmicos. Vamos perder porque a “lacração” não contagia a consciência das famílias que estão tensionadas para que seus filhos não sejam pais cedo. Por que se forem, como vão dar de comer? Como garantir o sustento? Como garantir a escola? E se ficar doente? É por isso que o discurso da abstinência sexual caiu como uma luva.


Se a esquerda continuar nessa rota, como diria Lênin, só vos resta o pântano. Larguemos as mãos, deixemos eles irem e se lambuzarem no pântano do vanguardismo, do niilismo e da degeneração moral. Esse é o lugar dos liberais da esquerda e de toda direita.


Nós que desejamos ser consequentes e interpretar da melhor maneira esse fenômeno, precisamos sempre estarmos conectados com a moral proletária e ouvi-lá. Precisamos nos dispor a sair da posição de superiores e iluminados. Se colocando ombro a ombro e, com exemplo, o convencendo que a ordem vigente é decadente e geradora de todos os problemas que o atingem. Para além disso, precisamos apresentar soluções concretas para os problemas concretos. Disputando e fazendo uso da política real como um dos meios para atenuar ou até mesmo solucionar seus problemas mais urgentes.


Texto de Arison Fernandes, que é diretor de formação política da Fundação Leonel Brizola- Alberto Pasqualini/ PE (FLB-AP/PE), publicado n'o Cafezinno e no Jornal A Pátria

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