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Primatologista traça evolução da bondade e da maldade humanas

Atualizado: 17 de fev. de 2020

Pesquisador da Harvard analisa autodomesticação em livro e tenta desvendar aspectos da natureza da espécie.


O Homo sapiens é, ao mesmo tempo, a espécie mais solidária e a mais horrenda da Terra. Os mesmos seres humanos que fazem doações para desconhecidos do outro lado do mundo também inventaram as câmaras de gás e a bomba atômica. Essa “dupla personalidade”, segundo o primatologista britânico Richard Wrangham, surgiu porque nossa espécie domesticou a si mesma ao longo da evolução.


Essa é a hipótese central de “The Goodness Paradox” (“O Paradoxo da Bondade”), livro mais recente do pesquisador da Universidade Harvard, ainda sem versão brasileira. Trata-se de um trabalho ambicioso, no qual Wrangham sintetiza uma quantidade colossal de informações —de experimentos com raposas na antiga União Soviética a estatísticas internacionais sobre homicídios, passando por descrições de sociedades de caçadores-coletores— para tentar explicar aspectos fundamentais da natureza humana.


Discípulo de sua conterrânea Jane Goodall, cujo trabalho revolucionou a compreensão que os cientistas tinham sobre o comportamento dos chimpanzés, o pesquisador argumenta que, apesar da profunda semelhança entre os seres humanos e os demais grandes símios, existem diferenças igualmente importantes entre nós e eles quando o assunto é a agressividade.


Apesar da tremenda capacidade de destruição que adquirimos por meio da tecnologia, o Homo sapiens médio é simplesmente muito mais manso do que qualquer chimpanzé. Wrangham é um dos principais cientistas a propor que esse “manso” deve ser entendido literalmente: um processo de autodomesticação, similar ao que transformou os lobos em cachorros domésticos, teria criado as características psicológicas e físicas dos seres humanos modernos.


Pelo que sabemos por meio do estudo de outras espécies, o processo de domesticação foi impulsionado principalmente pela seleção de animais mais tolerantes à presença humana e menos agressivos. As pessoas que iniciaram esse processo há milhares de anos tendiam a privilegiar a reprodução dos filhotes mansos para atuarem como companheiros do homem.

Ocorre que os genes associados a um temperamento mais amistoso também parecem influenciar uma série de outros fatores comportamentais e anatômicos, gerando a “síndrome da domesticação”.


Lado a lado, um neandertal e um Homo sapiens podem ser comparados a um lobo e um cachorro - Pierre Andrieu/AFP.

Foi isso o que revelaram os surpreendentes experimentos com raposas. O grupo liderado por Dmitry Belyayev (1917-1985) resolveu criar em cativeiro raposas-prateadas (espécie economicamente importante por causa de sua bela pelagem) separando-as entre as dóceis e as que não queriam contato com humanos.


As raposas dóceis não só balançavam o rabo para seus criadores como também ganharam aparência de cão doméstico: orelhas caídas, pelagem com manchas, caudas enroladas, focinhos mais curtos. São basicamente as mesmas diferenças que existem entre lobos e cães.


As características anatômicas típicas da síndrome de domesticação também marcam a diferença entre o Homo sapiens e formas mais arcaicas de seres humanos. Grosso modo, colocar um neandertal e um Homo sapiens lado a lado lembra a comparação entre um lobo e um cachorro.


Em geral, as sociedades de caçadores-coletores (consideradas o “modelo básico” da humanidade, uma vez que só passamos a plantar e criar animais nos últimos 10 mil anos) são muito mais tranquilas e igualitárias que os bandos de chimpanzés. Não existem “caciques” caçadores-coletores, e as tentativas de dominar o grupo pela força são duramente coibidas pelos demais membros do bando.


Wrangham propõe que esse foi o mecanismo de autodomesticação humana: ao longo de milhares de anos, coalizões envolvendo quase todo o bando foram eliminando os sujeitos com propensão a tirano, de modo que tendências à agressividade exacerbada e tirânica foram diminuindo na nossa espécie.


Porém, a mesma capacidade de planejamento e organização que permitiu esse processo de relativa pacificação dentro de cada grupo social e a formação de alianças com outros grupos também facilitou a competição entre sociedades diferentes.


Tal processo levaria à formação de Estados e impérios, capazes de organizar populações e tecnologia com muito mais eficácia —e tremendo potencial destrutivo, dependendo da situação. Essa é a tragédia humana dos últimos milênios: aprendemos a cooperar para competir melhor. Para Wrangham, a melhor maneira de evitar as consequências mais nefastas desse processo é ter consciência sobre suas origens.


Por Reinaldo José Lopes, Folha de São Paulo.

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