Se o socialismo cubano é “homofóbico”, o que é o capitalismo inglês?
- Jornal A Pátria
- 31 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2018

Em 7 de junho de 1954, Alan Turing se suicidava.
Alan Turing foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista da computação britânico. Influente no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo e computação e pioneiro na Inteligência Artificial, desempenhou um papel importante na criação do computador moderno. Mais que isso, ajudou a vencer a Segunda Guerra Mundial ao decifrar vários códigos nazistas, encurtando a duração da Guerra e salvando milhares e possivelmente milhões de vidas.
Apesar disso, tirou a própria vida aos 41 anos de idade, após sofrer com a repressão e a exposição pública pelo fato de ser homossexual assumido, numa época em que esse comportamento era criminalizado no Reino Unido. Ao descobrirem que tinha relações homossexuais, Turing foi condenado a terapias de castração química à base de estrogênio, um hormônio feminino que teve o humilhante efeito secundário de lhe fazer crescer os seios. Turing aceitou o tratamento como punição alternativa a prisão. A mesma lei homofóbica, a “Emenda Labouchere”, de 1885, também levou o poeta, dramaturgo e escritor Oscar Wilde a uma pena de 2 anos de trabalhos forçados.
Foi menosprezado em público como homossexual e impedido de acompanhar estudos sobre computadores. Acabou se suicidando, em 1954. A Rainha Elizabeth II, que “reina” até hoje, começava seu reinado há dois anos. O Primeiro-Ministro era o Winston Churchill, considerado até hoje um “Herói do Conservadorismo.”. Apenas em 2013, Elizabeth II decidiu “perdoar” Alan Turing pelo “crime” cometido na época.
5 anos depois, em Cuba, guerrilheiros liderados por Fidel Castro derrubavam a ditadura de Fulgencio Batista e, mais tarde, proclamaram o Socialismo naquela Ilha. A Revolução trouxe incontáveis ganhos sociais ao povo de Cuba. Porém, não ocorreu sem seus erros. Eram os anos 60, e naquela época o preconceito contra os gays era ainda muito forte, o que significava que muitos homossexuais acabaram injustamente presos pela polícia cubana – algo que acontecia também com Batista. Entretanto, a atitude de um comunista perante erros é a da autocrítica. Em 2010 – 3 anos antes de Elizabeth perdoar um crime que nunca ocorreu – Fidel veio a público pedir desculpas pela onda homofóbica durante os anos iniciais da Revolução, e assumiu ele próprio sua responsabilidade pelo que chamou de injustiça. O “ditador autoritário” demonstrou ter mais humildade que muitos “estadistas democratas” das chamadas “democracias liberais”. Mais tarde, a política do Governo Socialista em Cuba foi a de se abrir cada vez mais aos direitos dos homossexuais. Hoje há Paradas LGBT em Cuba, a sobrinha de Fidel, Mariela Castro, é uma conhecida ativista pelos direitos LGBT, e o novo Presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, é conhecido por ser mais liberal nas questões LGBT. Já se fala abertamente em aprovar a legalização do Casamento Gay no país.
Entretanto, muitos Anti-Comunistas ainda hoje usam a história da perseguição homofóbica em Cuba para difamar a Revolução Socialista no país. Ignoram a mea-culpa de Fidel, ignoram o contexto socialmente conservador em todo o mundo no inicio dos anos 60 (afinal, a polícia da ditadura militar brasileira também não deve ter sido “tolerante” quando enquadravam homossexuais) e ainda dizem que “O Socialismo é Homofóbico”. Ora, se o Socialismo Cubano é “homofóbico”, o que falar então do Capitalismo inglês, o mais antigo e um dos mais desenvolvidos, que em pleno governo de Winston Churchill, de direita e conservador, usa uma Lei assinada há quase 70 anos, no final do Século 19, para perseguir e humilhar um gênio, HERÓI DE GUERRA responsável por salvar incontáveis vidas?
Não esqueçamos que, entre os países mais liberais e capitalistas do mundo, estão Qatar e Emirados Árabes. São países que reprimem violentamente os homossexuais, – inclusive com pena de morte – mas cujos gigantescos arranha-céus e a opulência da população mais rica com seus carros esportivos banhados a ouro são mostrados como exemplo do “Sucesso do Capitalismo”. Sendo sociedades árabes islâmicas, há a desculpa do fator “cultural” – que aparentemente não vale para a Cuba católica e latino-americana dos anos 60.
E não nos esqueçamos também da atual onda de perseguição a homossexuais em países africanos, como Uganda, que esteve a ponto de criminalizar atos homossexuais com a pena de morte em 2014. Onda homofóbica instigada por missionários e pastores dos EUA, treinados nos EUA e ensinados com doutrinas políticas religiosas típicas do evangelicalismo estadunidense – incluindo a “Teologia da Prosperidade”, a defesa do capitalismo e da meritocracia e, claro, o conservadorismo político de “defesa da família tradicional e das crianças” típicas da Christian Right (Direita Cristã) do Partido Republicano que justificam que a comunidade LGBT de Uganda sejam caçados como animais – para total silêncio da nossa mesma Direita que tanto se escandaliza com o “Socialismo Homofóbico”.
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