Sobre os fundamentos do Leninismo - parte 3: a teoria
- Leonardo Rocha
- 15 de out. de 2019
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Ao contrário das visões, como as de Plekhanov, que apresentavam a ideia de que o Leninismo prioriza a prática enquanto sua teoria se encontra bastante descuidada, mais do que ninguém Lênin compreendia a grande importância da teoria e foi precisamente ele quem disse e repetiu dezenas de vezes a conhecida tese de que " sem teoria revolucionária não pode haver prática revolucionária". A teoria é a experiência do movimento operário de todos os países, considerada sob o aspecto geral. Naturalmente, a teoria deixa de ter objeto quando não se vincula à prática revolucionária, exatamente do mesmo modo que a prática se torna cega se não se ilumina o caminho com a teoria revolucionária.

Visto o domínio do capital financeiro nos países capitalistas avançados; as principais operações do capital financeiro, como as emissões de títulos; uma das bases do imperialismo, como a exportação de capitais para as fontes de matérias-primas; a onipotência da oligarquia financeira, como consequência do domínio do capital financeiro; o capitalismo monopolista põe a nu o seu caráter brutalmente parasitário, aumenta a indignação da classe operária contra o capitalismo e conduz as massas à revolução proletária. Daí surge a primeira conclusão: aguçamento da crise revolucionária nos diferentes países capitalistas, desenvolvimento nas "metrópoles" dos elementos que podem levar a uma explosão na frente interna, na frente proletária.
Visto a exportação intensificada dos capitais para os países coloniais e dependentes; a extensão das "esferas de influência" e dos domínios coloniais até compreender todo o planeta; a transformação do capitalismo num sistema mundial de escravização financeira e de opressão colonial da imensa maioria da população do mundo por um punhado de países "avançados"; tudo isso, de uma parte, transformou as diferentes economias nacionais e os diferentes territórios nacionais em elos da mesma corrente, denominada economia mundial; por outro lado, dividiu a população do globo em dois campos: um punhado de países capitalistas "avançados", que exploram e oprimem vastos países coloniais e dependentes, e uma enorme maioria de países coloniais e dependentes, que se vêem obrigados a lutar para libertar-se do jugo do imperialismo. Daí surge uma segunda conclusão: aguçamento da crise revolucionária nos países coloniais, desenvolvimento do espírito de revolta contra o imperialismo, na frente externa, na frente colonial.
Visto o monopólio das "esferas de influência" e das colônias, o desenvolvimento desigual dos diversos países capitalistas, que determina uma luta encarniçada por uma nova repartição do mundo entre os países que já se apossaram dos territórios e os países que querem receber a sua "parte"; as guerras imperialistas, único meio de restabelecer "o equilíbrio" desfeito: tudo isso leva a uma exacerbação da luta numa terceira frente, na frente intercapitalista, o que enfraquece o imperialismo e facilita a união contra o imperialismo nas duas frentes anteriores, na frente revolucionária proletária e na frente da luta pela libertação das colônias. Daí surge uma terceira conclusão: inevitabilidade das guerras na época do imperialismo, inevitabilidade da coalizão da revolução proletária na Europa com a revolução colonial no Oriente, numa só frente mundial da revolução contra a frente mundial do imperialismo.
Essas teses são o ponto de partida da teoria Leninista da revolução proletária. Tais conclusões foram reunidas por Lênin em uma conclusão geral: o imperialismo é a véspera da revolução socialista.
Consequentemente, mudou-se o modo de abordar o caráter, a amplitude e a profundidade da revolução proletária.
Hoje, já não basta analisar as premissas da revolução partindo do exame da situação econômica deste ou daquele país. É necessário abordar a questão partindo do exame da situação econômica de todos ou da maior parte dos países, do exame da situação da economia mundial, porque os diferentes países e as diferentes economias nacionais deixaram de ser unidades autônomas, transformaram-se em elos de uma só cadeia que se chama economia mundial, porque o velho capitalismo "civilizado" se transformou em imperialismo, ou seja, de um sistema mundial de escravização financeira e da opressão colonial da enorme maioria da população do globo por parte de um punhado de países "avançados".
Antes, achava-se que, para alcançar a vitória sobre a burguesia, fosse necessária a ação comum do proletariado de todos os países avançados, ou, pelo menos, da maioria destes. E portanto, considerava-se impossível a vitória da revolução num só país. Hoje, o caráter desigual e aos saltos do desenvolvimento dos diversos países capitalistas, na fase do imperialismo, o desenvolvimento das catastróficas contradições internas do imperialismo, que geram as guerras inevitáveis, o desenvolvimento do movimento revolucionário em todos os países do mundo: tudo isso determina não somente a possibilidade, mas também a inevitabilidade da vitória do proletariado em um ou outro país. A história da revolução na Rússia nos fornece uma prova direta. Isso nos mostra que hoje o ponto de vista de que é impossível a vitória num só país já não corresponde mais à realidade.
Eis o que disse Lênin a propósito destas condições no seu folheto "A doença infantil":
"A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções e particularmente pelas três revoluções russas do século XX, consiste nisso: para a revolução não basta que as massas exploradas e oprimidas estejam conscientes da impossibilidade de continuar vivendo como antes, e exijam mudanças; para a revolução é necessário que os exploradores não possam, mais viver nem governar como antes. Somente quando as «camadas inferiores» não mais querem continuar vivendo como no passado e as «camadas superiores» não podem mais continuar governando ã antiga, somente então a revolução pode vencer. Noutros termos, esta verdade se exprime do seguinte modo: é impossível a revolução sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores) Para a revolução, por conseguinte, é necessário, em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou pelo menos a maioria dos operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda plenamente a necessidade da revolução e esteja disposta a enfrentar a morte por ela; em segundo lugar, que as classes dirigentes atravessem uma crise de governo que arraste à vida política também as massas mais atrasadas..., enfraqueça o governo e torne possível aos revolucionários a sua rápida derrubada".
Porém, não significa que a instauração do poder proletário e a edificação da sociedade socialista em um só país significará que com as forças de um só país, será possível consolidar definitivamente o socialismo e garantir inteiramente o país contra a intervenção estrangeira.
Para isso é necessária a vitória da revolução em pelo menos alguns países. Por isso, desenvolver e apoiar a revolução noutros países é uma tarefa essencial da revolução vitoriosa. Por isso, a revolução do país vitorioso deve ser considerada, não como uma entidade autônoma, mas como um apoio, como um meio para acelerar a vitória do proletariado nos outros países.
Lênin exprime esse pensamento em duas palavras, dizendo que a tarefa da revolução triunfante consiste em realizar "o máximo possível num só país para desenvolver, apoiar e despertar a revolução em todos os países".
Leonardo Rocha
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