Sobre os fundamentos do Leninismo - parte 5: a questão camponesa
- Leonardo Rocha
- 4 de nov. de 2019
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Em "Sobre os fundamentos do Leninismo - parte 1: as raízes históricas", percebe-se o caráter internacionalista do Leninismo. Tal caráter se contrapõe as errôneas noções, como as de Zinoviev, que tratavam o leninismo como nacionalmente limitado, sendo o produto das particularidades russas, como a predominância dos camponeses, sendo a questão camponesa o essencial do leninismo. A questão camponesa, como questão do aliado do proletariado na sua luta por poder, é na verdade, derivada da questão da ditadura do proletariado, das condições da conquista e de consolidação desta ditadura, sendo a última, a essência do leninismo.

A questão camponesa é uma das questões mais importantes do leninismo, não devido as supostas "limitações nacionais", mas sim por fazer parte da questão geral da ditadura proletária.
Como bem colocado por Stalin: “É sabido que o estudo sério da questão camponesa nas fileiras dos marxistas russos começou precisamente nas vésperas da primeira revolução (1905), quando o problema da derrubada do tzarismo e da realização da hegemonia do proletariado surgia diante do Partido em toda a sua amplitude, e o problema de estabelecer quem seria o aliado do proletariado na revolução burguesa iminente assumia um caráter de palpitante atualidade. É sabido também que a questão camponesa na Rússia assumiu caráter ainda mais atual durante a revolução proletária, quando, partindo do problema da ditadura do proletariado, da conquista e da manutenção da mesma, se chegou a colocar o problema dos aliados do proletariado na revolução proletária iminente. É compreensível: quem marcha e se prepara para tomar o Poder não pode deixar de se interessar pela questão dos seus verdadeiros aliados.".
Durante a revolução democrático-burguesa russa, período que vai da primeira revolução de 1905 até a segunda revolução de fevereiro de 1917, havia uma luta entre os cadetes (burguesia liberal) e os bolcheviques (proletariado) pela conquista dos camponeses. Neste período de luta, as Dumas foram uma lição prática que mostrou aos camponeses que, das mãos dos democratas constitucionalistas, não receberiam nem a terra, nem a liberdade, que o tsar estava por completo ligado aos latifundiários e que os democratas constitucionalistas apoiavam o tsar, que a única força cujo apoio os camponeses podiam contar eram os operários urbanos, o proletariado. Isto resultou na libertação camponesa da influência da burguesia liberal, dos democratas constitucionalistas, a virada dos camponeses para o proletariado, para o partido bolchevique.
Durante a revolução proletária russa, período que vai da revolução de fevereiro de 1917 até a revolução de outubro de 1917, havia uma luta entre os socialistas revolucionários (democracia pequeno-burguesa) e os bolcheviques (proletariado) pela conquista da maioria dos camponeses. A sorte desta luta foi decidida, como dito por Stalin, pelo período da coalizão, pelo período do governo de Kerenski, pela recusa dos socialistas revolucionários e dos mencheviques a confiscar as terras dos latifundiários, pela luta dos socialistas revolucionários e dos mencheviques em favor da continuação da guerra. Isto resultou no afastamento dos camponeses em relação aos socialistas revolucionários e na tendência dos camponeses a agruparem-se diretamente em torno do proletariado, única força revolucionária consequente, capaz de levar o país à paz.
No período anterior, da revolução democrático-burguesa, a questão essencial da revolução consistia em derrubar o tsar e o poder dos latifundiários. No período posterior, da revolução proletária, quando já não havia o tsar, mas sim a guerra interminável que dava o golpe na economia nacional que havia arruinado inteiramente os camponeses, a questão essencial da revolução era pôr fim a guerra.
Com as recusas dos socialistas revolucionários e dos mencheviques a confiscar as terras dos latifundiários e pelo esforço para prolongar a guerra rumo à "vitória final", o período do governo de Kerenski foi uma lição prática para as massas camponesas de que, enquanto o poder estivesse na mão dos socialistas revolucionários e dos mencheviques, o país não sairia da guerra e os camponeses não obteriam nem a liberdade e nem a terra, mostrando claramente que os socialistas revolucionários e mencheviques apenas se distinguiam dos democratas constitucionalistas pelos seus discursos e suas promessas hipócritas.
Havia ficado claro que, para sair da guerra era preciso derrubar o governo provisório, era necessário derrubar o Poder da burguesia, era necessário derrubar o Poder dos socialistas revolucionários e dos mencheviques. Não existia, na prática, outro meio para sair da guerra, a não ser a derrubada da burguesia. Era uma nova revolução, para criar um novo Poder, um Poder proletário, o Poder dos Soviets, para levar ao Poder o Partido bolchevique, o partido da luta revolucionária contra a guerra imperialista, por uma paz democrática. A maioria dos camponeses apoiou a luta dos operários pela paz, pelo Poder dos Soviets.
Tais foram as circunstâncias que se deu o processo de transformação da revolução democrático-burguesa na revolução proletária. Assim se chegou na Rússia á ditadura do proletariado.
Após o campesinato russo passar por 3 revoluções, lutar contra o tsar e o poder burguês, ao lado e sob direção do proletariado, habituado a apreciar a amizade política e a colaboração política do proletariado, devedores da sua liberdade a esta amizade e a esta colaboração, os camponeses não poderiam deixar de estar extraordinariamente predispostos à colaboração econômica com o proletariado.
Eis o que diz Lênin sobre as vias de desenvolvimento da economia agrícola soviética: " Todos os grandes meios de produção em poder do Estado e o Poder do Estado nas mãos do proletariado, a aliança deste proletariado com milhões e milhões de camponeses pobres e paupérrimos, a direção dos camponeses assegurada ao proletariado, etc., não é porventura tudo isso que se torna necessário para edificar a sociedade socialista completa, partindo da cooperação, e somente com a cooperação, que antes tratávamos como mercantilista e que agora, durante a N.E.P., ainda temos o direito, em certo sentido, de considerar do mesmo modo; não é tudo isso, porventura, aquilo de que se precisa para levar a termo a construção de uma sociedade socialista completa? Isto não é ainda a construção da sociedade socialista, mas, sim, tudo o que é necessário e suficiente para levar a termo a construção.".
Leonardo Rocha
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