Trump demite Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, por diferenças sobre Irã, Coreia e Venezuela
- Jornal A Pátria
- 10 de set. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de mai. de 2022
Conselheiro linha-dura, John Bolton foi o mentor da estratégia de cerco ao governo iraniano.

WASHINGTON — O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton , foi demitido nesta terça-feira após divergências com o presidente americano, Donald Trump, em temas como Irã , Coreia do Norte e Afeganistão.
Um dos principais linhas-duras do governo, Bolton foi o mentor da estratégia de estrangulamento do governo iraniano e sempre se mostrou contrário à aproximação do país com a Coreia do Norte. Firme defensor da invasão do Iraque, Bolton também era ardoroso defensor de uma estratégia agressiva dos Estados Unidos na Venezuela.
No Twitter, Trump disse que “discorda fortemente de muitas de suas sugestões, assim como outros no governo” e, por isso pediu que o conselheiro renunciasse na noite de segunda-feira.
“Informei John Bolton ontem à noite que seus serviços não são mais necessários na Casa Branca (...) Agradeço muito a John por seus serviços. Vou nomear um novo conselheiro de Segurança Nacional na próxima semana”.

Após o anúncio, uma guerra de versões sobre o que motivou a saída começou. Também na rede social, Bolton deu outra versão sobre o fim de sua participação no governo: “Eu me ofereci para renunciar ontem à noite e o presidente Trump disse: 'Vamos falar sobre isso amanhã'”.

Segundo a CNN, Trump e Bolton discutiram asperamente na noite desta segunda-feira, sobre o plano do presidente de receber líderes do Talibã em Camp David , na Flórida, suspenso no fim de semana. Não está claro se a discussão foi ao vivo ou por telefone. Apesar dela, Bolton não esperaria ser demitido, e estava em uma reunião quando foi avisado da mensagem de Trump.
Entre as “discordâncias fundamentais" de Bolton com Trump, segundo o New York Times, estão a forma de lidar com países como Irã, Coreia do Norte e Afeganistão. A tentativa de Trump de buscar aberturas diplomáticas com Pyongyang e Teerã, principalmente, teriam incomodado os linhas-duras do governo, liderados por Bolton.
Apesar da recusa de Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, em renunciar a seu programa nuclear e dos repetidos testes de mísseis de curto alcance, o presidente americano continuava sua aproximação. Depois que o presidente organizou, de última hora, o encontro com Kim na Zona Desmilitarizada, Bolton optou por não acompanhá-lo.
Bolton ainda criticou publicamente os recentes testes de mísseis norte-coreanos, minimizados por Trump. A divergência entre os dois ficou clara em maio, durante a primeira viagem do presidente americano ao Japão. Depois que Bolton disse aos repórteres que “não há dúvidas” de que os lançamentos norte-coreanos haviam violado as resoluções das Nações Unidas, Trump disse não estar preocupado, na tentativa de preservar seu relacionamento com Kim.
O conselheiro também teria tido sérios conflitos com o secretário de Estado, Mike Pompeo, a ponto de os dois evitarem estar nos mesmos ambientes nos últimos meses. Em uma entrevista coletiva após a demissão, Pompeo disse que "houve muitas vezes em que o embaixador Bolton e eu discordamos. Isto é certo".
Pontos em comum
Bolton foi o terceiro assessor de Segurança Nacional de Trump em quase três anos de governo — seus dois antecessores, Barack Obama e George W. Bush, tiveram cada um dois, ao longo de oito anos — permanecendo 17 meses no cargo.
A tensão entre o presidente e Bolton foi agravada nos últimos meses pelas decisões do presidente de suspender um planejado ataque aéreo ao Irã, em retaliação pela derrubada de um avião de vigilância americano. Nos últimos dias, o presidente americano também manifestou vontade de se reunir com o iraniano Hassan Rouhani .
Trump também ficou desencantado com seu conselheiro de Segurança Nacional pela tentativa fracassada de tirar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro , do poder. Em vez da vitória fácil que Bolton havia antecipado, o presidente americano se viu preso em um conflito que não tinha interesse em se envolver.
Foi Bolton o responsável por cunhar a expressão " troica da tirania ", em novembro de 2018, referindo-se a Venezuela , Nicarágua e Cuba . Ele prometeu combater até a queda "de cada lado desse triângulo".
De acordo com o New York Times, Bolton estaria, desde então, de mãos atadas na tentativa de orientar Trump na direção que via como certa. Ele também entrou em conflito com funcionários do Departamento de Defesa, que ficaram alarmados com seus planos de uma guerra de contingência.
— Se dependesse de John, estaríamos em quatro guerras agora — lembrou um alto funcionário do governo ao jornal americano.
Encontro com Bolsonaro
O ex-conselheiro de Segurança esteve no Brasil em novembro para um encontro com o presidente Jair Bolsonaro — a primeira autoridade americana com quem o presidente se encontrou após ser eleito, e a portas fechadas. Pouco antes da visita, Bolton classificou o novo governo como uma “oportunidade histórica”.
Muito antes de Trump popularizar seu slogan “America First”, Bolton se considerava um “americanista” que priorizava uma visão dos interesses e soberania nacionais. Neste sentido, os dois compartilhavam um profundo ceticismo em relação ao globalismo e ao multilateralismo , o que fez com que Bolton aproveitasse seu tempo no cargo para orquestrar a retirada dos Estados Unidos dos tratados de controle de armas e outros acordos internacionais.
Com o apoio de Trump, Bolton também ajudou a colocar em prática políticas para pressionar o governo cubano, revertendo algumas das medidas tomadas por seu antecessor, Barack Obama, que promoveu uma histórica abertura diplomática na ilha.
Bolton trabalhou como advogado, colaborador da Fox News e é membro do conservador American Enterprise Institute, desde que atuou como representante do presidente George W. Bush na ONU, em 2005 e 2006. Ele estava no cargo desde abril de 2018.
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