A Ciência Econômica e o Socialismo como como perspectiva intelectual (por Elias Jabbour)
- Jornal A Pátria
- 12 de set. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de dez. de 2019
Conversando com um economista de alto calibre hoje pela tarde sobre grandes questões da ciência econômica contemporânea, ele me perguntou: "Partindo do seu campo de estudo, qual sua perspectiva intelectual?".

Para surpresa dele, respondi: "o socialismo".
Desenvolvi falando, ao meu estilo, várias coisas. Mas o núcleo é a economia como a ciência do avanço da técnica e, por conseguinte, da divisão social do trabalho. E as classes sociais - sujeito e objeto - deste movimento.
A reprodução material da humanidade vai sempre esbarrar no nível das relações entre o ser-humano e a natureza. Na medida em que essa relação geram novas inovações na técnica, outra fonte de freio do movimento está nas relações do ser-humano com o ser humano. Ao mudar a base a técnica, o movimento demanda outro nível das relações humanas.
Com este ponto de vista fica evidente que a economia é uma ciência que pode ser tanto a última das ciências naturais, quanto a primeira das ciências sociais.
O mundo está diante de uma época revolucionária no campo do desenvolvimento das relações entre homem e natureza. O grau de técnica extraída desta relação está alçando a outro patamar a capacidade de regulação da produção, circulação e distribuição de mercadorias. É a tal 4ª Revolução Industrial.
A cada descoberta científica, eleva-se o grau da mais-valia relativa extraída. Cai por terra a falsa premissa neoclássica da "alocação de recursos escassos". Pode-se especular que existem condições para se criar somente valores de uso em detrimento dos valores de troca, dada a dimensão dos avanços da técnica.
A ciência vence o obscurantismo no campo de sua excelência própria. Mas o obscurantismo reina absoluta sob a égide da conversa fiada dos recursos escassos eternos e da preferência individual dos consumidores.
Muda-se a base técnica da sociedade, deve-se mudar também a percepção do ser humano sobre si mesmo.
O socialismo como perspectiva intelectual para mim é expressão de uma mudança de consciência necessária diante tanto da incapacidade de um sistema se reinventar sem passar pela violência de uma classe sobre a outra, quanto do novo que está surgindo na República Popular da China. Por lá um novo modo de produção começa a operar assentado em uma formação econômico-social de novo tipo. A ciência econômica surgida como síntese de uma variação da física mecânica é incapaz de dar solução à sua própria crise de identidade, refugiando-se como perspectiva intelectual dos rentiers um dia apontados, por David Ricardo, como inimigos do progresso.
A ciência econômica burguesa não vulgar não se realiza enquanto Princípio da Demanda Efetiva na era financeirizada.
O socialismo como perspectiva intelectual nada mais é do que perceber que a compreensão da anatomia do macaco requer observar e estudar a anatomia humana. O que está em cima ilumina o restante.
Ou descobrimos as lógicas de funcionamento da única economia nacional capaz de responder às grandes questões levantadas pela proscrição do capitalismo ou simplesmente não seremos capazes de olhar e perceber que a ciência econômica, como tudo no campo do conhecimento, guarda historicidade e fidelidade às leis da ciência.
O socialismo é um conceito historicamente construído. Foi assim que Adam Smith percebeu o futuro diante da totalidade de uma fábrica de alfinetes.
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