A esquerda do Brasil e do Mundo precisa rever as táticas contra 'O Movimento' de Steve Bannon
- Jornal A Pátria
- 7 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Steve Bannon, ex-assessor de Trump, montou uma Internacional de extrema-direita, chamada de "O Movimento". Por motivos, formas e meios que pretendo estender em outro momento, ela usa e abusa da ciência de dados para ajudar seus candidatos em eleições.

Sobre ciência de dados, temo que escrever esse texto antes da extensão que citei acima vá apenas contribuir ainda mais para o caráter "místico" que dão a essa ferramenta na internet. Mas queria simplificar em uma só frase: uma boa análise de dados é relevante para o controle de fluxos sociais porque ela SIMULA com muita qualidade a INTIMIDADE.
Se o youtube é capaz de te indicar músicas melhor que seu melhor amigo ou espos@, ele facilmente parece seu melhor amigo ou espos@. Fiquemos aqui e lembremos porque nossa tia acreditou mais nas mensagens do zap do que nos jornais...
Mas essa máquina não é infalível. Existem ao menos dois casos recentes no qual ela esteve a pleno vapor mas foi derrotada. Eu quero citar os dois casos para falar do fracasso da esquerda brasileira.
O mais recente caso foram as eleições nos EUA em novembro passado. E não foi a direção do partido democrata a grande vitoriosa (essa se esforçou para nos últimos dois anos enterrar o fenômeno Bernie Sanders, só para vê-lo multiplicado, radicalizado e diversificado). Os vitoriosos, apesar de ainda bem minoritários, foram os chamados "justice democrats", ou "democratas da justiça social" (em oposição, ao que eles chama de "corporate democrats" ou "democratas das corporações").
A lógica dos JDs envolve uma política de redes e rua, com algum viés da definição clássica de partido-parlamentar de esquerda. A principal diferença é uma estúpida descentralização da organização partidária e um investimento massivo no uso do youtube para jornalismo de opinião. Isso gera um ponto de contato essencial da base afoita por mobilizar-se contra Trump.
Bem, eu não quero contar mais uma vez tudo que sofri no PSOL por defender essa ideia simples de que um partido sem um jornal não disputa a opinião da sociedade e, portanto, é inútil, e de que um jornal no século XXI é uma boa página de youtube.
Perseguições e calúnias mil até o projeto ser abortado. Mas quem dera o problema fosse só do PSOL.
A política de comunicação do governo PT baseava-se em desconcentrar a distribuição de verbas publicitárias, de forma a ela refletir com mais equidade o público de cada emissora. E, assim, beneficiar a Record e o SBT, ambos hoje na base de apoio de Bolsonaro. O marco da TV digital foi para os caralhos, as discussões sobre democratização da mídia para o espaço e só sobrou meia dúzia de blogs de conteúdo duvidosos, como os Brasils 247 e Conversas Afiadas da vida.
Uma tragédia, uma idiotice e um tiro no pé.
O outro caso de vitória contra "O Movimento" foi a eleição do presidente AMLO, no México. Ali, seu partido deve a brilhante ideia de combater intimidade simulada com... intimidade real. Aí, apostou-se em visitar a casa das pessoas para conversar sobre política, com fortalecimentos dos laços entre os militantes do partido e os cidadãos não-militantes.
Era um certo "trabalho de base", com uma qualidade um tanto mais fluida, menos presa nos formatos tradicionais de escola-universidade-sindicato. Mas trabalho de base, ainda assim.
Bem, da minha experiência, os núcleos do PSOL Rio de 2012 para cá foram terrivelmente auto-sabotados pela disputa pelo aparelho (como se a direção do PSOL fosse mais capaz de mudar a sociedade do que o trabalho de base...).
Os do PT foram demolidos pelo próprio grupo majoritário do partido em processo contínuo da década de noventa mas principalmente durante o governo Lula.
Não estou aqui para defender nenhum desses exemplos da esquerda internacional. Tenho diversas críticas a ambos, ressalvas diversas, preocupações com a capacidade deles de fato gerarem algo novo. Só queria contar essa pequena história sobre táticas e ferramentas, sobre quais usamos e quais descartamos. E sobre como muitas vezes as que descartamos eram justamente as que precisávamos.
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