China compra página da Folha de S. Paulo para mandar recados a Bolsonaro
- Camarada C.
- 1 de dez. de 2018
- 1 min de leitura

A China mandou um recado cifrado a Bolsonaro. Em anúncio pago de página inteira na Folha de hoje, a agência de notícias estatal Xinhua traz uma entrevista com um professor chamado Severino Cabral, doutor em sociologia e membro do corpo permanente da Escola Superior de Guerra. Ele parece dizer o que a China quer dizer. E os chineses não brincam em serviço.
“Apesar de Bolsonaro ter feito declarações controversas durante a campanha, as ações dele durante a Presidência tendem a ser mais prudentes”, diz a Xinhua, atribuindo a ideia a Cabral.
“O professor [Cabral] acredita que as relações do Brasil com a China são sólidas e que nenhum governo gostaria de afetá-las”, diz ainda a agência estatal chinesa, cifrando.
Cabral é apresentado como membro do Instituto Brasileiro de Estudos da China e Ásia-Pacífico, que tem uma página do Wordpress, sem endereço e sem telefone. O "quem somos" diz: "Pretende ser um ponto da rede multicultural de pesquisadores associados." Só.
Contexto: O novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, havia escrito num blog pessoal, durante as eleições, que “um novo eixo socialista latino-americano, sob os auspícios da China maoísta [...] dominará o mundo.” A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil.
Mais uma: metade do anúncio de página inteira da agência estatal chinesa Xinhua na Folha de hoje é dedicado à defesa do multilateralismo. O título deixa o recado claro: "China defende o multilateralismo". O chanceler brasileiro associa multilateralismo a marxismo cultural e afins.
(Atualização. Trechinho lá no pé: "Mourão mostrou visões mais pragmáticas em entrevista recém-publicada. Ele disse que o governo Bolsonaro não pretende causar nenhum conflito com a China." Pronto)
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