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Diálogos estarrecedores: Lula, Roberto Marinho e a sociologia do entreguismo

Atualizado: 11 de dez. de 2019



12 de setembro de 1992. Luzinácio Lula encontra-se com o doutor Roberto Marinho. Encontro publicado na primeira página do jornal O Globo, do qual extraio alguns trechos estarrecedores.


Lula: “– A pior coisa que existe na política é duas pessoas não se gostarem sem se conhecerem.


Esta rasgação de seda perdoa a TV Globo no segundo turno de 1989. Lula dança na “montagem” do debate com Fernando Collor.


Lula porém já passou borracha em cima de sua memória de derrotado.


Roberto Marinho: “– Estamos aqui para lavagem de ideias. Ruim seria se fosse para lavagem de dinheiro.


A tônica da conversa girou em tomo da “ética na política”: ideias, não dinheiro. Não é necessário falar de dinheiro.


Roberto Marinho: “Quer saber de uma coisa, Lula? O Collor só existe na vida da República por sua causa.


Há, há, há…


Sobre Leonel Brizola, a personalidade mais comentada nesse encontro, Lula diz o seguinte: ‘Ele precisa sempre de um adversário’. Quando não é a Globo é o PT. A coisa é tão ridícula que ele mandou fazer uma faixa: ‘Rede Globo e PT: tudo a ver’.


Luzinácio critica os Cieps, dizendo que as crianças deveriam ser alfabetizadas nos sindicatos. Roberto Marinho se diz arrependido de ter fabricado Collor em nome da modernidade. Lula, radiante após o encontro, declara: “Pelo impeachment aceito sentar-me até com o diabo”.


Lula: “– Marinho se mostra arrependido de ter criado Fernando Collor, além de se mostrar perplexo e indignado com a situação do país.


A certa altura do diálogo aloprado entre o capital videofinanceiro e o trabalho new tele-sindical, Roberto Marinho faz a pergunta chave, depois de dizer que tem 87 anos: “– Aqui, Lula, você acha que eu ainda tenho tempo de aprontar alguma travessura?


Sua última grande travessura foi eleger Fernando Collor através da telenovela em 1989. Luzinácio perdoa o golpe eletrônico da Rede Globo, de olho no futuro. O perdão da classe trabalhadora é concedido por causa da moralidade corrupta na casa da Dinda.


Comovido pela ética na política, Lula namora o imperador da comunicação: “– Meu caro Lula, eu avisei ao Collor para morar no Palácio, não na casa da Dinda, mas ele não me ouviu. Aí então retirei meu apoio ao governo, de modo que não tenho nada a ver com os jardins da casa da Dinda.


Luzinácio mostra-se homem de diálogo, tolerante, flexível, cordial. Dava para supor o sub texto de um troca-troca: Lula não dá força para ir adiante a CPI da Nec, livrando a cara de ACM, Sarney e Roberto Marinho. Em contrapartida, a Rede Globo põe a sua abrangente semiologia a serviço de Suplicy em São Paulo contra Maluf, e no Rio de Janeiro a serviço da petista Benedita, com objetivo de eleger o jesuíta César Maia.


O jornalista Hélio Fernandes estampa em seu jornal que Luzinácio troca Brizola por Marinho. Este revela que em 1989 mandou carta para Lula, mas ficou sem resposta. Lula retruca que já era tarde quando recebera a carta. Então, doutor Roberto diz que achava, nas eleições de 1989, que Lula estava, tal qual Leonel Brizola, interessado em fechar a Rede Globo.


Roberto Marinho: “- Ameaçado por você e pelo Brizola, este, raivoso, fazendo as maiores ameaças, pensei no destino dos sobreviventes do meu país e nas famílias dos meus companheiros do Globo e da TV Globo e … resolvi enfrentar as feras. Foi quando o Fernando foi lá no meu gabinete. Bem vestido, caprichado. Falava nobremente sobre os problemas do Brasil. Um dia eu o provoquei sobre quando lançaria a candidatura. Ele respondeu que seria quando eu quisesse. Eu sei que ele estava à espera dessa palavra. Apoiei naquelas circunstâncias mas mesmo assim aquela carta que lhe escrevi foi um tapete que eu estendi para você. Você recusou.”


Lula: “- Mas aí a campanha já estava no final.”


Show de cinismo. A carta-testamento da telenovela. Lula nunca ameaçou fechar a TV Globo. O PT-Rio não tinha nenhum antagonismo com o doutor Roberto Marinho. Nenhuma contradição entre o PT e o monopólio das comunicações. Qualquer um poderia ser o candidato da sua mais-valia audiovisual em 1989: Lula também? Daí a frase estarrecedora do doutor Roberto Marinho, frase que sintetiza a política brasileira na era do capitalismo videofinanceiro: “- Quer saber de uma coisa, Lula? O Collor só existe na vida da República por sua causa.”


Honra seja feita à inteligência do doutor Roberto ao evidenciar que Collor é uma criação da Rede Globo, a mais notável criação do pós-64: Globo, Lula e Collor. Roberto Marinho escancara a essência da superestrutura política. A infraestrutura é a telenovela.


A frase do doutor Roberto aponta para o óbvio: “- Olha, Lula, não foi você meu candidato de 1989, mas você poderá vir a sê-lo em 1994.”


A Rede Globo e o PT nasceram após a queda de João Goulart. Entre uma coisa e outra existe a telenovela. Afinal, a novela Anos Rebeldes (1992) aproxima a TV Globo e o PT. A mesma estética: Rede Povo, Plim-Plim. Paródia afetiva como homenagem. A opinião pública, conforme pesquisa do Ibope, não odeia nem a Rede Globo nem o doutor Roberto Marinho. Assim, sob o ângulo pragmático, o PT aceita sem constrangimento o arsenal tele informático da Rede Globo.


Por que recusar o apoio do doutor Roberto? Ninguém chega ao poder sem o seu consentimento ou beneplácito.


Felatio semiológica de Roberto Marinho com Luzinácio Lula: “– Eu fui à casa da Dinda e não vi o jardim paradisíaco da corrupção. Eu perdi este espetáculo paisagístico”. Luzinácio abana humildemente a cabeça. Lula pensa com os seus botões: “- Por que eu não posso fumar charuto em público?” Nenhum marajá entra no céu!


O que será do PT nas próximas eleições sem o evangelho da Igreja?


Luzinácio descurte seu drama interior de ex-retirante. Afinal, como diz o verso de sua musiquinha da campanha de 1989: sem culpa de ser happy. A felicidade é burguesa. A felicidade não tem história. O doutor Roberto pensa que nem um nordestino faminto indignado diante da corrupção da casa da Dinda. Sem a TV Globo não há governabilidade.


*  *  *


A palavra nacionalismo encerra múltiplas referências de 1930, do ISEB, de Alberto Pasqualini, de João Goulart, de Guerreiro Ramos, de Nelson Werneck Sodré, de Glauber Rocha, de Darcy Ribeiro, de Leonel Brizola.


O Cebrap sempre teve horror do nacionalismo. Não sabemos se o engenheiro Itamar Franco leu ou não os intelectuais do ISEB, que são superiores em estilo e informação à patota da Cepal, assim como não posso afirmar se ele está por dentro da difamação sociológica feita pelo Cebrap contra o ISEB depois de 1969. Essa difamação sociológica contra o ISEB do Rio de Janeiro não deixou de afetar até o próprio Florestan Fernandes que veio a ser um dos ilustres fundadores do PT dez anos depois.


A manipulação digital narcotráfica da moeda cumpre o objetivo de realizar a expropriação energética dos trópicos. Nesse esquema não importa que o povo brasileiro sobreviva. O território vale mais do que o povo. A energia do sol e da água que existe neste pedaço enorme de terra independe da presença de gente brasileira.


*  *  *


A juventude do PT continua submetida à alienação colonial, tanto agora durante a vigência do capitalismo videofinanceiro, quanto à época em que o automóvel era o charme da burguesia industrial no ABC paulista.


Lembro que nos finais da década de 70 havia uma tendência jovem do PT chamada Liberdade e Luta: a Libelu. Misturando a noção de trabalho em Marx com a estética negativa de Theodor Adorno e o internacionalismo de Trotsky, a Libelu tinha horror à ideia de identidade cultural e de autoconsciência nacional.


Vanguarda cultural do PT, espécie de Cebrap boêmio anti-isebiano, a Libelu formada de estudantes, jornalistas e professores universitários, fugia do nacionalismo como uma “peste populista”.


Pouco a pouco, já no início da década de 80, a Libelu substituiria a kulturkritik porralouca da Escola de Frankfurt pelo carreirismo iúpi. Muitos ex-libelus acabaram votando em FHC nas eleições de 1994, o que mostra a convergência estética e ideológica com a burguesia industrial de São Paulo, amalgamando-se ao “internacionalismo multinacional” do PT, veiculando o conceito pluralista de modernidade com objetivo de tornar anacrônico o conceito de nacionalismo na luta pelas “liberdades democráticas”.

Em todas as regiões do país, nas faculdades de Letras e Ciências Sociais, as estrelas da USP são repercutidas como o que há de intelectualmente mais avançado em política e cultura. A USP funcionou como ponta de lança do colonialismo cultural interno desde o fim da década de 60.


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O processo de privatização, iniciado com o governo Collor, redundou em internacionalização do território.


O problema é que o povo brasileiro não poderá alcançar qualquer felicidade a não ser dentro do seu território.


O pêndulo tucano, cínico e hipócrita, oscila diante das duas variáveis fatais: a interna e a externa. Logo no início do Plano Real em 1994, dizia-se com empáfia que tudo havia sido planejado intramuros ou internamente; mais tarde em 1998, com a “turbulência” externa que poderia comprometer a estabilidade da economia, a ênfase foi colocada exclusivamente na natureza mundial da crise. O diabo passou a morar alhures fora de casa, longe daqui. Disso resulta hoje em dia a posição conformista e reacionária: o que está feito, danou-se, está feito, não se altera nada, ponto final.


Sobre os dogmas do Plano Real nunca me esquecerei da propaganda na TV: pobre agora está comendo frango, yogurte, dentadura.


Desde os anos 70 com a Trilateral, o estrategista do império norte- americano, o polonês Zbigniew Brezezinski que substituirá a Henry Kissinger, preconizava o Estado-nação monitorado pelos bancos e multinacionais. A ascensão privatizante do caçador de marajá ao poder em 1989 inscreve-se dentro da lógica do capitalismo “tecnotrônico” formulado por “Zbigi” (assim o polonês é chamado), isto é, a 3ª Revolução Industrial assente na eletrônica do vídeo e do computador, mas cobiçando os recursos estratégicos dos trópicos. Olho gordo na Vale do Rio Doce. O petróleo acabando no mundo inteiro. Wall Street sabe disso. Por conseguinte, a “modernidade” collorida extrapola os limites do Botanic Garden da Rede Globo. O ex-presidente Fernando Collor é um clip tecnotrônico de mister Zbigi, para quem a palavra “nacionalismo” não tinha nenhuma significação em 1970. Três anos depois, em 1973, Kissinger, alemão naturalizado norte-americano, articula o golpe contra Salvador Allende no Chile, o epílogo da Guerra Fria.


No final deste milênio, o conceito de “normalidade” política no Brasil significa prosseguir com FHC à frente de um governo desprovido de legitimidade. O país de joelhos diante do FMI e da impagável dívida externa.


Nesse contexto o confuso Partido dos Trabalhadores, de origem estatofóbica, não quer tirar o homem do trono para antecipar novas eleições. A vocação natural do PT paulista é perdoar o presidente FHC, se este porventura mexer no câmbio e alterar algumas coisas da política econômica.


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Os acadêmicos petistas e tucanos irão recorrer ao ensaio Raízes do Brasil, afirmando in abstrato a correspondência entre reinado da democracia e fortalecimento de partidos políticos.


O “algo nuevo” no ar em 1989 apontava para as candidaturas Fernando Collor e Luís Inácio Lula. As duas candidaturas pressupunham a ilusão de que havia um abismo entre o golpe de 64 e a retomada das eleições diretas para presidente da República 25 anos depois. O denominador comum entre esses dois candidatos é a existência da telenovela que se expandiu a partir da década de 70. A telenovela cumpriu a função de eliminar da memória brasileira o ano de 1964. Não é à toa que a indústria cultural prefere fabular reacionariamente em torno de 1968. Até o presente momento não houve no entanto nenhuma novela que tematizasse a ruína de João Goulart em 1964.


O que os petistas e tucanos extraíram da leitura de Raízes do Brasil? Salvo engano, eles bateram na tecla da correspondência entre a falta de racionalização da vida e a tibieza da sociedade civil no Brasil, cuja consequência política mais desastrosa seria a existência de um Estado que paira acima da sociedade. O que o PT deseja como utopia é a civil soçaite, de acordo com o discurso peagadê de Luís Inácio Lula. Nos autores petistas a “teoria do autoritarismo” é eminentemente antiestatal, ainda que nossa libido pró-solução autoritária tenha sido trazida pela Companhia de Jesus.


A “teoria do autoritarismo” virou moda em vários partidos políticos no final da década de 70, fruto de uma leitura excessivamente formalista e abstrata da advertência contida no livro Raízes do Brasil a respeito da debilidade estrutural da sociedade civil. Quantas páginas não foram consumidas em nossa sociologia a favor do fortalecimento da sociedade civil! Basta alguém fazer o levantamento estatístico nos jornais da década de 70. É bem verdade que a expressão sociedade civil foi muitas vezes usada para contrastar com o poder militar.


A leitura de Raízes do Brasil na década de 70 serviu para desancar com a figura do caudilho Jango Goulart antes de morrer em 1976, e depois Leonel Brizola. Não é por acaso que o deputado Florestan Fernandes, às vésperas das eleições de 1989, se insurge contra o “machismo eleitoral” do líder gaúcho. A palavra caudilho toma-se sinônimo de tirano, antidemocrata, pessoa obcecada com o poder e que não ouve ninguém.


Caudilho machão, segundo o sociólogo do PT. Figura anacrônica depois que a sociedade civil no Brasil se fortaleceu com o partido político da classe operária: o PT. Um dos pilares do chamado embasamento sociológico desse partido surgido em 1979 resume-se é a ênfase no princípio de que as bases (basismo) tem maior relevo do que a persona do líder carismático. Assim, delineia-se uma contraposição entre a base coletiva democrática versus o carisma individual da liderança.


O carisma, de individual, passa a ser um atributo de uma entidade grupal: a classe. Então, proclama o PT: o dom pessoal de determinado líder já era. Coisa do passado. É isso o que confere charme “moderno” ao Partido dos Trabalhadores nascido no ABC paulista. Nesse partido o líder não fala apenas por si mesmo, nem segue sua própria cabeça. Antes de pronunciar-se sobre alguma coisa, ele deve consultar as bases, reunindo-se com o máximo possível de militantes. Estes não devem submeter-se à idolatria, à idiossincrasia, aos caprichos e manias do líder. A modéstia do líder converte-se em virtude ontológica e o sucesso eleitoral de determinada liderança não passa de uma conquista de mérito grupal.


Além do reunismo que campeia à solta (a opinião como a soma de opiniões dos militantes ou a ideia de consenso), o PT se vangloria de eliminar o personalismo das lideranças: o PT não é do Lula, o Lula não é dono do PT, o PT não faz o que o Lula manda.


Tanto na ala do PT marxólogo quanto na ala do tucano social-democrata existe um silêncio sabotador do fato histórico em torno da Campanha da Legalidade de 1961, na qual Leonel Brizola deixou claro seu repúdio à dominação caudilhesca e teceu rasgados elogios à ordem jurídica constitucional. E nisso consiste o paradoxo da inversão a partir dos anos 70: aquele que foi em 1961 o anticaudilho é hoje em dia estigmatizado injustamente como um irrecuperável caudilho sedento de poder, centralizador, personalista, que – segundo as palavras infelizes de Luís Inácio Lula – pisa até no pescoço da própria mãe para ser presidente da República.


Luís Inácio Lula não faz senão repetir a perfídia ideológica da UDN entreguista que deu o golpe em 1964, forjando a imagem de Leonel Brizola como um líder político sanguinário, violento, grosso, louco para rasgar a Constituição.


Eis o paradoxo insuflado pela direita de 1964 a 1989: quem espalhou o terror anti institucional no Brasil foi Carlos Lacerda, mas quem ficou com a fama de agitador político caudilhista foi Leonel Brizola, que no entanto está mais para Rousseau do que para Hobbes.


A “teoria” do antipopulismo e do anticaudilhismo nasce na UDN liberal-reacionária, ainda que seja retomada na década de 80 pelo PT e pelo PSDB, os udenistas de esquerda ou de centro-esquerda.


Pouca gente se recorda de que em 1961, na cidade de Porto Alegre, quando Jango Goulart estava em viagem a Pequim, Leonel Brizola pronunciou um famoso discurso sobre o perigo do caudilhismo que não respeita a Constituição e colocou o Exército gaúcho na rua em defesa da posse do vice-presidente João Goulart.


Gilberto Felisberto Vasconcelos, do jornal a ‘Hora do Povo

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