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Entre a comédia romântica e o épico: comentários sobre o filme norte-coreano "Camarada Kim irá voar"

Breves comentários do Camarada Bruno sobre o filme norte-coreano "A Camarada Kim irá voar", filme produzido pela Coreia do Norte com colaboração anglo-belga

Na euforia em torno do filme Parasita (obra bastante crítica do neoliberalismo e da americanofilia da Coreia do Sul), acabou que algum companheiro recomendou um filme norte-coreano para aproveitar a onda de curiosidade sobre a Coreia como um todo, sobretudo no âmbito do cinema. Infelizmente não me recordo quem realizou tal feito para que eu preste meus imensos agradecimentos. Mas na ocasião eu salvei o filme para ver mais tarde e assisti há pouco.


O filme se chama "A camarada Kim irá voar" ("Comrade Kim goes flying"). Trata-se de uma trabalhadora mineira que sonha em ser uma acrobata profissional. Chega a sofrer com o preconceito de classe de um acrobata profissional renomado de origem pequeno-burguesa que reside na capital Pyongyang (sua mãe é uma bibliotecária, família de "profissionais liberais"). Na obra a protagonista tem muitos embates com ele justamente por conta da postura do mesmo.


Em linhas gerais o clima do filme soa como um típico filme da seção da tarde, com uma atmosfera leve e sem maior profundidade reflexiva – algo a ser visto numa tarde com os filhos pequenos. Mas ainda assim, ao contrário dos filmes deste estilo que rondam no meio ocidental, que se limitam a um drama romântico como outro qualquer, o filme é carregado de ótimas referências políticas.


Como um empreendimento de massas, para um público popular amplo, é um filme um tanto quanto educador, e imagino que os comunistas coreanos devem tratar a obra assim.


Importante notar que, mesmo enfatizando no desenvolvimento pessoal da protagonista, a Kim Yong Mi (김용미), há sempre de forma incessante a presença do seu local de trabalho original, o ambiente das minas, bem como dos mineiros (o qual possuem uma identificação de classes entre eles e a personagem).

Os laços de classes se fortalecem num canteiro de obras em Pyongyang, donde a acrobata Kim Yong Mi trabalha um tempo como operária da construção civil. O canteiro, a propósito, é onde ela, junto com seus colegas de trabalho, participa do "Festival dos Trabalhadores", onde a coletividade dos operários ali também se diverte e demonstra suas aptidões performáticas e hobbys.


Há também uma fábrica em que ela cria amizade com o operário-supervisor e vários outros funcionários, na busca para que produzam equipamentos adequados para as apresentações acrobáticas do Festival dos Trabalhadores. Ele estava reticente em produzir aquilo no maquinário da fábrica que liderava, mas acaba sendo convencido pela persistência da mineira. No final há um discurso do líder da fábrica sobre como Yong Mi expressa bem a força da classe operária, "uma mulher forte", "como tem que ser nossa classe".


A cidade interiorana mineira de Kim Yong Mi e a capital Pyongyang tem sua participação na ambientação, assim como o "circo" de apresentações artísticas. Mas as minas, o canteiro de obras e as fábricas roubam a cena.


O local de trabalho, cenas de trabalho, diálogos em intervalos de trabalho. O trabalho ocupa um local central no desenvolvimento do filme. A identificação entre trabalhadores também. O "mineiro", o "pedreiro", o "operário".


Um filme sobre uma filha de alguém humilde que quer se tornar uma artista famosa pode ser facilmente encontrado nas bandas ocidentais. É um estilo genérico de filme dos EUA até, tal como os dramas de superação adolescente de séries musicais da Disney. Mas o estilo norte-coreano se distingue qualitativamente de tudo isto até quando se propõe a fazer um filme de proposições leves semelhante a uma “comédia romântica”.


A produção deste filme pode parecer um pouco precária ou de baixo orçamento, mas a noção estética é ótima: além da já citada ambientação bem "laboral", há referências diretas ao símbolo Collima (que representa alegoricamente na Coreia um movimento que lembra o stakhanovismo soviético).

Collima, o cavalo alado que representa a velocidade aqui também é lembrado pelo significado do ser alado que "voa" e vive aos ventos, em alusão a própria protagonista, a operária das minas (que vive abaixo da terra, no chão), mas que se desenvolve como uma grande acrobata (que vive acima da terra, no ar). Yong Mi faz questão de levantar uma bandeira gigantesca em uma de suas apresentações (no Festival do Trabalhador) com uma representação gráfica do Collima.


Quando alguém elogia a realização daquele Festival do Trabalhador diretamente ao operário que chefiava o canteiro de obras, como se isso fosse um mérito individual dele, ele, como chefe da Kim Yong Mi e do resto dos operários do canteiro, faz questão de reforçar: "Isto é obra de todos, da Yong Mi e de todos os trabalhadores que, juntos, se esforçaram para construir isto", "é uma obra coletiva".


A narrativa enfatiza as realizações de Kim Yong Mi, mas toda a ambientação reforça a narrativa da coletividade. Seu chefe no canteiro de obras, seu pai e seus companheiros de trabalho das minas, todos estes, reforçam os valores do coletivismo, do bem-comum, da melhoria constante do todo (e não apenas da busca da satisfação do um).


Disto podemos perceber: até um "drama" (tido como comédia romântica), se ambientado e produzido sob a influência do mundo socialista, transcende as próprias fronteiras do drama e alcança alguns elementos do épico.


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