Infoproletários: Os trabalhadores da informática
- Jornal A Pátria
- 13 de ago. de 2018
- 3 min de leitura
(João Pedro FG., 2 de julho de 2018).

Os trabalhadores de tecnologia constituem um dos setores que surgiram com o capitalismo digital. É um setor extremamente relevante e essencial para o funcionamento da sociedade atual. Os proletários desse setor têm, no geral, um salário maior do que a maioria dos trabalhadores (por exemplo, um programador ganha em média R$ 2.284,99, de acordo com o site Catho, enquanto metade dos trabalhadores brasileiros têm renda menor que um salário mínimo, de acordo com o IBGE), porém, esses indivíduos são extremamente explorados e quase não há sindicatos ou qualquer outro tipo de organização que represente-os perante às empresas da área da Tecnologia.
É possível observar essa questão da exploração através dos seguintes relatos de trabalhadores do Vale do Silício, nos EUA (Um dos maiores polos tecnológicos do mundo):
“Olho para a hora, está se aproximando da meia-noite. Hora de ir para a casa, quase meia-noite. Volto para a casa: ‘que sorte viver na South Bay’ eu penso enquanto volto para a casa-é uma viagem curta. É um pouco depois da meia-noite quando eu vou para a cama. Sono sem sonho. O alarme liga às 6:30” (neste dia de trabalho, o expediente havia começado às 9 horas da manhã).
“Acorde, tome banho. Estar preso no tráfego por uma hora. Chego no trabalho, nenhum lugar bom para estacionar. Café da manhã na mesa de trabalho. Almoço. Trabalho. Estar preso no tráfego por uma hora. Durma. Repita. Sim, o vale do silício é incrível”
“Fazer um bom salário, mas ainda assim não ser capaz de pagar por uma casa numa boa vizinhança”
“Muito estresse (prazos duros, grande número de tarefas, medo de falhar quando faço algo importante para a companhia). Se seu gerente não for um engenheiro de software, você terá ainda mais estresse. Algumas companhias esperam que você faça hora-extra de graça.”
Neste último relato, há um aspecto muito relevante dessa indústria e do próprio capitalismo: o adoecimento mental. Muitos trabalhadores desse setor tem vários problemas psicológicos como estresse, ansiedade e depressão, causados pelo trabalho, que, como é possível notar pelos relatos, tem o potencial de ser extremamente estressante. Esse aspecto é também corroborado por pessoas que trabalham na área de desenvolvimento de jogos, como é possível observar no relato de Jean-Philippe Steinmetz, um engenheiro veterano na indústria de jogos:
“Toda companhia para que trabalhei exigiu um crunch (Semanas de trabalho na indústria de jogos que podem se ter até 100 horas). Muitos dos problemas que vejo são o grande abuso de fazer com que seus empregados trabalhem demais, esgotando pessoas, dando compensação inadequada”
É possível perceber a necessidade de organização desses trabalhadores, porém, um dos aspectos que dificulta isso é a questão de que a ideologia liberal e pequeno-burguesa está extremamente presente nesse meio, tanto que são muitos os que buscam fundar uma start-up e acreditam na meritocracia. Disso, vem toda a necessidade de conscientização de classe.
Além disso, é interessante observar que toda essa questão da flexibilização do trabalho, da superexploração da mão de obra é algo estrutural, presente no capitalismo, principalmente a partir do Toyotismo, na década de 1970. Outro exemplo disso é o home-office (trabalho remoto), em que, no geral, você deixa de ter um turno de trabalho e passa a trabalhar praticamente o dia todo, todos os dias da semana, além do fato de que isso afeta o relacionamento interpessoal com as pessoas que vivem com você.
Atualmente, há algumas iniciativas para tentar organizar os infoproletários de todo o mundo, algumas delas são a “Game Workers Unite” e o “Infoproletários”, os quais você pode ler sobre nos seguintes sites:
Infoproletários de todo o mundo, uni-vos!
João Pedro FG.
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