Líder da ala radical da oposição na Bolívia esteve com chanceler de Bolsonaro em maio deste ano
- Jornal A Pátria
- 11 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Há indícios consideráveis de participação do Estado brasileiro no golpe boliviano. Isso nos desperta imensa preocupação, uma vez que é absurda a ingerência de um país nos rumos políticos de outro, e atesta a vocação também golpista e autoritária do governo Bolsonaro.

Luis Fernando Camacho pediu ajuda ao governo brasileiro para que Evo Morales fosse impedido de tentar a reeleição. Com informações de O GLOBO.
BRASÍLIA — Líder da ala radical do movimento oposicionista que resultou na saída de Evo Morales da presidência da Bolívia, o empresário e advogado Luis Fernando Camacho pediu ajuda ao governo brasileiro, no início de maio deste ano, para que Morales fosse impedido de tentar a reeleição. Segundo relato do próprio Camacho, ele teria recorrido pessoalmente ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Em vídeo divulgado na época em redes sociais, Camacho disse ter pedido a Araújo que realizasse uma consulta na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Um dos argumentos usados por ele era que a reeleição de Moraes seria inconstitucional.
"Tivemos o compromisso do chanceler [Ernesto Araújo] de realizar a consulta e que se realize a mesma para que tenhamos resposta antes do processo eleitoral", afirmou Camacho.
Procurado, o Itamaraty informou que a audiência, ocorrida no dia 2 de maio, era, na verdade, com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). A parlamentar estava acompanhada de Camacho e um grupo de parlamentares bolivianos, que estiveram com o chanceler para "tratar de temas de interesse para as relações bilaterais". De acordo com o Itamaraty, o opositor não manteve reunião ou conversa específica com o ministro.
Carla Zambelli disse que os deputados e senadores bolivianos entregaram uma carta pedindo para o Brasil se posicionar contra a candidatura à reeleição de Morales. Uma cópia do documento também foi deixada no Palácio do Planalto.
— O governo não deu resposta sobre essa carta. Essa solicitação foi deixada, mas o governo não agiu, até onde eu sei. Foi uma tentativa. Tanto é que o pedido era para que a reeleição nem acontecesse, que Evo Morales não tivesse o nome entre os concorrentes, porque a reeleição dele era inconstitucional. Já era a terceira reeleição dele, sendo que a Constituição da Bolívia é igual à do Brasil, só podia uma reeleição — disse a parlamentar. (...)
Evo Morales foi reeleito no fim de outubro, num pleito contestado pela oposição. Logo em seguida, o Itamaraty informou que não iria reconhecer, naquele momento, a reeleição de Morales, e defendeu uma auditoria completa da votação pela OEA. (...)
Diante do resultado da editoria, Morales propôs a realização de uma nova eleição, com a renovação dos juízes do Tribunal Supremo Eleitoral.
Mas Camacho, que lidera a ala radical da oposição, recusou a oferta e continuou pedindo a renúncia do presidente. Morales finalmente anunciou sua renúncia depois de ameaçado e intimidado pelas Forças Armadas que aderiram ao golpe de Camacho, e "sugeriram" que ele deixasse o cargo para supostamente "pacificar" o país.
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