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Os Estados Unidos e o Golpe militar de 1964

Atualizado: 29 de mai. de 2022

Hoje o General Hamilton Mourão, via Twitter, comemorou o dia do golpe militar em 31 de março de 1964 como uma "intervenção contra a desordem e a corrupção". Ao contrário do que Mourão comemora, o golpe de 64 foi anti-popular e anti-patriótico, com ampla participação dos Estados Unidos no processo que culminou na deposição do presidente João Goulart.


A participação estadounidense é amplamente documentada como mostra o livro do historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira - A Presença dos Estados Unidos no Brasil - e que, por isso, o Jornal A Pátria reproduzirá um trecho do livro relatando os últimos 15 dias antes do golpe militar.

Em Washington (16 de março) os Embaixadores dos Estados Unidos junto aos países da América Latina (Gordon presente) se reuniram para ouvir as novas diretrizes da politica externa. E na ocasião Thomas Mann declarou que o Governo de Johnson não trataria de impedir, sistematicamente, os golpes militares de direita. Tornava-se difícil, segundo ele, traçar uma linha divisória entre democracia e ditadura, dentro das condições do Continente. "Por essa razão , acrescentou, "a luta contra o Comunismo e a defesa dos investimentos do país constituem os objetivos principais da política dos Estados Unidos na América Latina Os interesses nacionais americanos e as circunstâncias próprias de cada situação continuariam a determinar, como no passado, a atitude de Washington com relação aos Governos inconstitucionais que surgisse no Continente. Era o atestado de óbito da doutrina que, embora contraditoriamente, Kennedy procurou estabelecer. E a divulgação do discurso de Mann equivaleu a um aviso público do falecimento, ou melhor, a um edital, um comunicado à praça da posição de Washington.


Quando Gordon regressou ao Brasil, em 21 de março, a atmosfera densa, carregada, indicava o avanço dos preparativos para o golpe de Estado, com todas as suas conseqüências, inclusive a guerra civil. A oposição pedia o impeachment de Goulart. As organizações de direita, tendo à frente a Campanha da Mulher Democrática (CAMDE), articulavam a realização em todo o país das chamadas Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade, a fim de açular a fúria anticomunista nas classes médias. O tom e a cadência mostravam que existia um regente invisível, orquestrando a campanha, dentro do quadro dos conflitos internos e das lutas de classes, que se aguçavam e das quais o imperialismo norte-americano também participava como empressário. E durante a Semana Santa sobreveio a crise que desde há muito fermentava na Marinha de Guerra. Algumas centenas de marinheiros compareceram a uma assembléia de sua associação, no Sindicato dos Metalúrgicos, contrariando as ordens do Almirante Sílvio Mota, titular da pasta. O destacamento de fuzileiros navais, enviado para prender os dirigentes, aderiu à manifestação, abandonando as armas na rua. A radicalização do processo propiciava, sem dúvida, movimentos de indisciplina daquele tipo. Mas, da mesma forma que na rebelião dos sargentos, não se pode excluir a hipótese de que provocadores também o tivessem insuflado, a fim de galvanizar a oficialidade contra o Governo de Goulart. Uma sublevação só triunfa quando passa para a ofensiva e nela se mantém, mas é sob a forma aparentemente defensiva que melhor se desenvolve e alarga seu lastro de apoio. E não havia, no momento, pretexto mais eficiente para encobrir o atentado à Constituição e a quebra da hierarquia do que a defesa da hierarquia e o respeito à Constituição.


Na Sexta-Feira da Paixão, enquanto os marinheiros, libertados pelo novo Ministro, Almirante Paulo Mário Rodrigues, desfilavam pela Avenida Presidente Vargas (Guanabara), o General Castelo Branco despachou emissários para vários Estados, com o objetivo de coordenar as operações militares, cujo início ele previra para a noite de 2 de abril, após a realização da Marcha da Família, pelas ruas do Rio de Janeiro. No dia seguinte, entretanto, os Chefes brasileiros de outra corrente da conspirata, o Governador Magalhães Pinto, Marechal Odilo Denís e os Generais Olimpio Mourão Filho (ex-integralista), e Luiz Carlos Guedes decidiram antecipar a sedição. Magalhães Pinto constituiu uma espécie de Ministério interpartidário e convocou Afonso Arinos para desempenhar o papel de Chanceler, caso tivesse que pedir aos Estados Unidos o reconhecimento do estado de beligerância, a fim de que Minas Gerais pudesse importar armas pelo porto do Espírito Santo, conforme entendimentos previamente estabelecidos. O Coronel Vernon Walters, aliás, oferecera material bélico ao General Luiz Carlos Guedes, comandante da 4.a Divisão de Infantaria Divisionária, sediada em Belo Horizonte. E enquanto Minas Gerais se mobilizava para o levante, outro agente da CIA, Dan Mitrione, procurou o Governador Magalhães Pinto para comunicar-lhe que os Estados Unidos também tinham condições de mandar tropas, seis horas depois de feita a solicitação. Magalhães Pinto estranhou a rapidez e calculou que os homens ou já estariam dentro do Brasil ou viriam de uma base norte-americana que se supunha existir no Paraguai, pois dificilmente chegariam do Panamá dentro daquele prazo. Ninguém soube que, àquela altura, a frota norte-americana do Caribe se deslocava, aproximando-se de Natal, no Rio Grande do Norte, para que os marines desembarcassem, se necessário. Segundo o Embaixador Gordon, 40.000 americanos estavam, então, em território brasileiro e ele pensou na hipótese de uma guerra civil.


Goulart, ciente do que se passava, não agiu com a energia que o momento impunha. Não deu maior importância às informações sobre a mudança do Secretariado de Minas Gerais e a ocupação pela Polícia Militar de todos os depósitos de combustível existentes no Estado, domingo (29 de março) iniciada. Segunda- feira, apenas determinou o fechamento da Carteira de Redesconto do Banco do Brasil, afetando os negócios de São Paulo e Minas Gerais, e, à noite, compareceu a uma reunião de Suboficiais e Sargentos das Forças Armadas, no Automóvel Clube. O número de militares presentes, muito abaixo do que ele calculava, mostrou que as Forças Armadas lhe fugiam ao controle.


Nesse mesmo dia o Departamento de Estado divulgou um relatório (escrito em janeiro para a Comissão de Relações Exteriores do Congresso americano), afirmando que, apesar de crítica a situação, existiam “escassas possibilidades de que os comunistas dominassem o Brasil em futuro previsível”. Mas um porta- voz daquele órgão, simultaneamente, declarou que a situação piorara e que as autoridades norte-americanas se preocupavam bastante com a sobrevivência da democracia brasileira. Salientou que algumas medidas, adotadas desde janeiro, demonstravam a influência comunista cada vez maior sobre o Governo de Goulart. Essas medidas, adotadas desde janeiro, se resumiam, evidentemente, na regulamentação da lei de remessas, questão vital para o imperialismo norte-americano. E o Washington Star, comentando a crise no Brasil, disse que “um bom e efetivo golpe de Estado, à velha maneira, por líderes militares conservadores, pode bem servir aos melhores interesses de todas as Américas”.


O golpe de Estado já estava em andamento. No dia 31, as tropas da 4º Região Militar, comandadas pelo General Mourão Filho, marcharam sobre o Rio de Janeiro, enquanto outros contingentes, despachados pelo General Guedes, se dirigiram para Brasília. A polícia de Lacerda, auxiliada pelas milícias particulares de direita, ocupou discretamente o Rio de Janeiro, sem que as forças do I Exército se movimentassem. “Nós, do Governo, nos sentíamos como numa cidade ocupada pelo inimigo e até sem segurança individual” — contou Abelardo Jurema. As notícias de buscas de elementos ligados ao Governo Federal pela Polícia de Lacerda começaram a surgir e Goulart, estranhamente continuou apático, sem uma atitude firme de comando. O Almirante Paulo Mário implorou, quase chorando, a Jurema que obtivesse de Goulart a autorização para atacar o Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado e um dos centro da conspiração. “Aviões na Base de Santa Cruz roncando para a luta, fuzileiros bem armados e com a melhor disposição de ânimo ansiavam por uma ordem de combate e fortíssimas unidades do Exército como o GUEs ficaram com os seus Comandantes esgotados à espera de uma palavra de ordem que nunca chegou”.


Goulart confiou no General Kruel, Comandante do II Exército (São Paulo), a quem dera todo o apoio, temendo as articulações de Brizola com os militares nacionalistas. E Kruel aderiu à sublevação. Goulart, ao que tudo indica, só percebeu que não contava com mais nada, quando soube que o Regimento Sampaio, em Juiz de Fora, se passara para o lado dos rebeldes, deixando sozinho seu Comandante, General Cunha Melo. E na manhã de quarta-feira, l.° de abril, ele se mostrou visivelmente perplexo e abatido. Chamou o Ministro do Trabalho, Amauri Silva, para tratar da greve geral, que já paralisava o Rio de Janeiro, impedindo que as massas ganhassem as ruas. San Tiago Dantas, a quem ele pedira para entender-se com o Governo de Minas Gerais, interrompeu então a conferência, para lhe comunicar o resultado da conversa que tivera com Afonso Arinos. Disse-lhe que nada mais adiantava, era muito tarde, pois o movimento contava com o apoio de Washington, que se dispunha não só a reconhecer o estado de beligerância de Minas Gerais como a intervir, militarmente, no Brasil, caso irrompesse a guerra civil. Seria inevitável a internacionalização do conflito. Essa informação, sem dúvida nenhuma, pesou sobre o comportamento de Goulart. Ele abandonou o Rio de Janeiro, sem comunicar sequer aos seus Ministros, seguindo para Brasilia e, de lá, para o Rio Grande do Sul. O Congresso, apressadamente, empossou o Deputado Ranieri Mazzili na Presidência da República, cargo ainda ocupado, pois Goulart não renunciara e ainda se encontrava em território brasileiro. E Johnson logo telegrafou a Mazzili, felicitando-o pela investidura.


O rápido e intempestivo reconhecimento do Governo de Mazzili, estando Goulart no Rio Grande do Sul, não constituiu uma leviandade diplomática. Johnson teve como objetivo assegurar uma justificativa para a aplicação do Acordo Militar de 1952, renovado pelas notas de 30 de janeiro de 1964, ordenando a intervenção armada no Brasil, a pedido, se as forças populares ainda resistissem.


Trecho extraído do livro Presença dos Estados Unidos no Brasil (Dois Séculos de História), Luiz Alberto Moniz Bnadeira, 2º edição, Editora Civilização Brasileira, páginas 471 à 475




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