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Porque ser nacionalista se o Brasil é uma invenção?

Atualizado: 19 de dez. de 2019

(Bruno Torres, 28 de maio de 2017).

Como fundador e militante de um movimento nacionalista já recebi algumas indagações, nas mais diversas situações, de gente que também se reivindica como esquerda, incomodados com o caráter “patriótico-popular” de nossa organização política – me refiro aqui ao Movimento Nova Pátria – e com a nossa estética “nacional”.


O tipo das indagações giram em torno de algo como “como vocês podem ter um ‘orgulho nacional’ ou um ‘sentimento nacionalista’, se a gente sabe que historicamente a pátria brasileira é uma ‘invenção’?”.


Ironicamente, boa parte estas pessoas são conterrâneas de meu estado o que as faz também nordestinas, e muitos destes são os primeiros que pautam ou pautariam o “orgulho regional”, o “orgulho de ser do Nordeste”, sobretudo dentro de contextos em que há casos explícitos de discriminação e declarações de ódio contra nordestinos. O que, para mim, é perfeitamente normal, compreensível, e é parte de um sentimento que também nutro e partilho.


Todavia, “invenção” por “invenção”, o Nordeste foi tão “inventado” quanto o Brasil, e ambos são conceitos historicamente construídos. Como o título “A invenção do Nordeste” (de Albuquerque Jr) sugere, o Nordeste foi “recentemente inventado”, o que, obviamente, não torna o sentimento de pertença regional menos legítimo.


Invenção ou não, o sentimento de orgulho ou de pertença não se explica na “fundação” desta entidade – nada espontânea ou natural. Este sentimento, na atualidade, se explica em processos sócio-históricos posteriores.


Historicamente, o Nordeste não existia, e o que compreendemos hoje por esta região, era integrada numa região maior chamada apenas de “Norte”. A separação em duas regiões, mantendo uma com o nome de Norte e a outra sendo nomeada como Nordeste, teve como propósito inicial um fim puramente administrativo e de exploração.


O ponto é que, mesmo nesta “invenção”, as consequências dessa medida política administrativa criaram uma integração entre as populações destes estados, sobretudo nas regiões interioranas. Em termos culturais, artísticos, etc., existem diferenças claras de um estado para o outro – sobretudo nas áreas litorâneas – o que não muda a proximidade maior entre seus estados se comparado com as outras regiões. Para além disto, se somam questões econômicas comuns: o êxodo rural, os filhos dos camponeses sertanejos que se veem obrigados a migrar ao sul ou sudeste, etc. Isto tudo se soma a uma gama de problemas comuns que aproximam as populações destes diferentes estados. Aqui, portanto, para o sentimento de orgulho e pertença, o ato de “invenção” ou “fundação” pouco importa se comparado as questões orgânicas que vão se processar depois – talvez até por consequência indireta dessa medida de “inventar”.


No Brasil, houve um processo semelhante, como este acima citado quanto a região Nordeste, mas com um processo de mais longo prazo e com complexidades maiores – até porque se trata de um país e não de uma região.


Do ponto de fundação da colônia pelos próprios portugueses, desde a rica contribuição dos povos africanos e indígenas, o colonialismo português, mesmo sem querer criar um país (afinal, qual potência colonial quer?), assenta as bases deste país de proporções continentais e os processos históricos simplesmente farão com que a situação saia do controle de Portugal. Assim, independente da vontade dos homens – ou da vontade de um país –, desenvolvemos o nosso próprio modo de falar o português, nossas próprias identidades (desde a nacional, mas também as regionais e locais e a de arquétipos orgânicos menores e grupos étnicos diversos), de modo que, ainda o Brasil tenha surgido inicialmente com a pretensão de ser uma “invenção administrativa” e colonial de Portugal, necessariamente o próprio desenvolver da história e os homens que compõem o Brasil extrapolaram o conceito do Brasil inventado para ser substituído por um Brasil historicamente construído.


O nacionalismo popular, portanto, se explica na condição de resistência e na luta por nossa real independência, que os movimentos populares no Brasil devem ter, obrigatoriamente, como parte de sua agenda programática.


Este sentimento, portanto, se compreende nas condições históricas atuais, independente da “invenção” ou não do Brasil em séculos passados.


Um militante de esquerda repudiar movimentos nacionalistas de caráter popular e anti-imperialista, na justificativa de que o Brasil foi inicialmente “uma invenção não espontânea”, ao mesmo tempo que advoga para si coisas como “orgulho de ser nordestino”, faz com que este mesmo militante caia na mais pueril incoerência, além de prestar um desserviço à causa popular e da emancipação dos trabalhadores de uma forma geral.


O que legitima ou não o sentimento nacionalista ou o orgulho regional não é o fato dele ter sido “inventado” ou do mesmo ter sido “espontâneo”, mas sim os processos sócio-históricos que se desenvolvem em torno deste povo, desta região e desta nação, na posteridade, muito além do momento da “invenção”. Não num ponto estático do passado, mas na dialética do desenvolver da história e no movimento real do tempo presente.


Não avaliem a história por um evento supostamente estático, específico, como o evento da “invenção do Nordeste” ou mesmo a “invenção do Brasil”. Avaliem a história como um "processo" que possui movimento incessante, necessariamente dialético, que anda, se altera, vive em constante mudança gestando pequenos acúmulos propensos a transformações.


Caso queiram ter uma posição correta quanto a este tema, não olhe o Brasil ou o Nordeste no ponto “estático” da sua “invenção”, mas observe ambos (nação e região) enquanto um conceito que se “desloca” e possui um fundo político móvel, baseado nas classes sociais e sujeitos históricos que os constituem.


Sem mais: ambos sentimentos são legítimos, e ambos devem ser levantados.


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