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"Quem acabou convertido pelos índios fui eu", diz ex-missionário que viveu na Amazônia

Americano Daniel Everett defende em livro tese polêmica sobre origem da linguagem.

Acadêmico viveu por oito anos entre os Pirahã, no Amazonas. Foto: Divulgação

A linguagem teria surgido não com a nossa espécie, o Homo sapiens , há no máximo 200 mil anos, como acredita a maior parte dos cientistas, mas muito antes, com o Homo erectus , há mais de 1 milhão de anos. Pelo menos é o que defende o linguista norte-americano Daniel Everett, de 68 anos, estudioso de línguas indígenas e professor na Bentley University, Massachussets. A tese deu o que falar há dois anos quando seu livro “Linguagem - A Maior Invenção da Humanidade” foi lançado nos EUA. A obra sai no Brasil pela Contexto nesta semana.


O país foi crucial nos estudos de Everett. O linguista fez mestrado e doutorado na Unicamp e foi com seus estudos na Amazônia que ele desafiou a consagrada teoria da gramática universal de Noam Chomsky, que chegou a acusá-lo de charlatanismo.


Para Chomsky, a linguagem teria origem numa mutação genética há cerca de 50 mil anos, e toda língua teria recursividade, ou seja, a capacidade de encaixar uma frase na outra. Everett, no entanto, defende a existência de uma língua humana sem esta característica: a dos pirahã, uma das cerca de 200 línguas indígenas faladas no Brasil hoje.


Além de ser fluente em português, inglês, espanhol e, claro, pirahã, Everett lê 15 idiomas. Para ele, o fato de a língua dos indígenas que vivem em Humaitá (AM) ter algumas peculiaridades como as de não designar números, cores nem possuir tempos verbais para se referir a passado e ao futuro, são consequências de aspectos dessa cultura, contrariando assim a teoria de que a linguagem teria necessariamente origem genética.

Daniel L. Everett lança no Brasil obra em que contraria tese consagrada de Noam Chomsky e defende que os Homo erectus já usavam linguagem Foto: Divulgação

Everett começou a estudar o pirahã em 1977, quando se mudou para a aldeia isolada às margens do Rio Maici, junto com a família. Seu objetivo inicial era o de traduzir a Bíblia e, assim, catequizar os índios:


— Comecei a desenvolver um sistema de escrita para tentar ensiná-los a ler e escrever na língua deles. Até que um dos índios me disse: “você está nos ensinando a ler e escrever nossa própria língua, mas nós não fazemos isso, não queremos, pode parar”. Encerrei as aulas.


Sua intenção de convertê-los foi um fracasso:


— Quem acabou convertido pelos índios fui eu. Eles não têm noção de Deus, não têm medo de morrer, não acreditam em inferno nem céu, e são muito contentes assim. Então, no decorrer dos anos eu mesmo fui perdendo a fé, e hoje em dia sou ateu.


O ex-missionário, que morou na aldeia durante oito anos e é um dos poucos falantes não nativos do pirahã, adoraria voltar a conviver com os indígenas. Mas para isso precisa de um parecer do CNPq para obter autorização da Funai.


— E com minha posição em relação ao Chomsky ficou bem mais complicado conseguir um parecer.


Relação entre navegação e linguagem


Surgido há cerca de 1,8 milhão de anos, o Homo erectus foi o primeiro de nossos antepassados a ter deixado a África, e seu cérebro chegava a ter dois terços do tamanho do homem moderno. Seus fósseis foram encontrados na Europa, China e África.


Mas Everett argumenta que certos elementos, como as ferramentas à base de osso, ferramentas líticas (de pedra), uso de cores, artefatos de madeira e cinzéis permitem afirmar que os erectus desenvolveram uma cultura, além de terem construído embarcações, o que implicaria em raciocínio simbólico:


— Começamos a encontrar Homo erectus em várias ilhas, longe da terra firme, há mais ou menos 750 mil anos. O que quer dizer que eles não pegaram caronas com paus que estavam flutuando, mas atravessaram propositalmente o mar, indo para as Filipinas e a Ilha das Flores, na Indonésia atual, por exemplo — diz Everett.


O linguista enfatiza que muitos arqueólogos estão percebendo cada vez mais a relação entre a navegação e a necessidade da linguagem.


Everett argumenta que, se os erectus tinham símbolos, como nós, é possível que tivessem linguagem e emitissem mais que simples grunhidos.


Uma das afirmações mais polêmicas do linguista é a de que embora a língua do erectus diferisse das línguas modernas em relação à complexidade gramatical, “elas eram línguas humanas”. Ao ordenar símbolos linearmente, os Homo erectus provavelmente eram capazes, defende o linguista, de dizer orações simples como “Chove”, ou “João; casa”.


— O elemento fundamental para a linguagem é o símbolo, não a gramática. Os linguistas que propõem uma data mais recente para a origem da linguagem não prestaram atenção ao início dos símbolos, porque as teorias que tiveram mais influência são as teorias da sintaxe, não do símbolo — afirma Everett.


Acadêmicos argumentam não haver evidências de que o uso de certas ferramentas pelos Homo erectus implicariam em desenvolvimento de linguagem. E que mesmo o Neanderthal, surgido posteriormente, não possuía linguagem, embora não haja consenso a respeito.


Juliana Vaz, O GLOBO

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