Um espectro ronda o mundo e não é esse que você pensou
- Pedro Valente
- 27 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de ago. de 2018
A glória vermelha que iluminou os últimos quinze anos incitou um fenômeno tão notável como o surto esquerdista, inflamado no primeiro decênio do século. A aprovação massiva sobre seu governo insinuava um momento de unidade, quando a maioria grossa da população reconhecia que vivíamos uma época vitoriosa. Esse cenário ruiu junto com os infortúnios que acompanharam o mandato seguinte, resultado da catástrofe econômica que atormentava a Europa, alianças parlamentares que se enlanguesciam progressivamente, decisões ruins em geral. Frustraram-se, e pouco depois, o ódio. De repente, gêneros e fantasias ideológicas que há muito não eram debate, foram exumadas em nome de um único projeto e hoje, são o entulho que ficou desses anos abominosos vividos pelo Brasil e entre os mais notórios, perdendo apenas para a psicodelia intervencionista, a classe liberal.
Essa categoria filosófica, encantada pelo solilóquio de um mundo livre a partir de “liberdades” fundamentalmente mercadológicas e de um Estado que se ocupa estritamente de funções elementares, buscando ampliar seu séquito, pretexta de tudo que lhe cabe, menos congruência e preceitos sistematicamente elaborados. É como se seu organismo metodológico repelisse voluntariosamente todos os critérios indispensáveis para a constituição de uma proposição teórica. Não é preciso informá-los que o perfil estatal desenhado pelas revisões iluministas – um corpo público que desrespeita o sufrágio que vive de faculdades indiscriminadas, um leviatã, uma sociedade de usurpadores – não caracteriza a única forma possível de Estado, pois bem o sabem, e sabem, também, que não existe prosperidade sem sua atividade na vida contemporânea.
A sordidez e a miséria da agenda liberal se verificam no modo como aproveitam o entorpecimento da nossa coisa pública para sublimar o mercado com uma espurcícia sem limites, e não o fazendo por ingenuidade, mas pela carência de motivos e pela necessidade dramática de sustentar suas deliberações a todo custo. É evidente que o desenvolvimento de uma nação não pesa integralmente no seu regime comercial, mas em um Estado forte que satisfaça as ânsias socioeconômicas do seu povo. Seu conceito de liberdade – um pretexto cômodo para as monstruosidades praticadas em nome do capital – é capaz de indicar quem e o quê seu discurso representa.
Pedro Valente
Comments